UM INESQUECÍVEL SÁBADO MUSICAL
Depois de alguns poucos meses de ensaio, eis que lépido e fagueiro, se aproximava o aguardado momento da apresentação do Coral Comunitário do Colégio Pedro II, no meu caso, de estreia como coralista em um evento grande, com o pomposo título de 34°Encontro Internacional de Corais de Cabo Frio.
Os últimos ensaios semanais carregavam uma tensão, quase palpável no ar. O experiente professor ia gradativamente, a cada momento, fazendo pequenas correções em cada dos três conjuntos vocais, soprano, contralto e tenor. Dava para sentir sua emoção aflorar, quando o pedido era integralmente assimilado.
A ansiedade coletiva já se tornara flagrante nos ensaios, principalmente após a confirmação de que o colégio ofereceria transporte gratuito para todos. Agora cabia a cada um se organizar, para ouvir repetidamente as gravações, para cada uma das vozes, que o professor academicamente disponibilizara no WhatsApp do grupo.
Em casa, já fazia algum tempo que nosso café da manhã ganhara um fundo musical especial, a execução das quatro músicas selecionadas para a apresentação. Impressiona como a repetição dessa série de letras foi sendo literalmente incorporada à alma.
Chegamos eu e Soninha com um dia de antecedência a cidade de Cabo Frio e nos hospedamos no hotel do clube Militar.
O sábado amanheceu ensolarado, logo em seguida ao café da manhã, fomos para a quadra de tênis para brincar, aproveitando que a ventania do dia anterior cessara. Quando veio o cansaço partimos de cadeiras e barraca para a aprazível praia do foguete, que se limita com as dependências do clube.
O mar forte inibiu a permanência n’água, por outro incentivou a leitura, prevenido, tenho sempre um livro a bordo, a ser lido tanto em ambientes agradáveis, quanto em esperas que costumeiramente profissionais invariavelmente nos impõem.
Passada essa glamorosa manhã, agora depois do banho, partimos para o almoço no Centro da cidade. Coincidências à parte, ao estacionar o carro, avistamos o professor Maurício acompanhado de amigos passando na calçada. Cumprimentamo-nos, em seguida apanhei no carro um pequeno agrado, sob forma de chocolate, para parabenizá-lo pela dedicação irrestrita ao grupo.
Terminado o almoço, partimos em direção a Igreja de São Jorge, onde seríamos apresentados a componentes de dois antigos corais do professor. Enquanto acabava uma missa, ficamos na calçada em frente se conhecendo, surpresa, descobri que o Maurício tem um fã clube de carteirinha lá em Cabo Frio, que conhece e aprecia suas composições.
O ensaio não poderia ter sido melhor, beneficiado que foi pela soberana acústica da igreja. Pela expressão do Maurício, ficou surpreso com a experiência de mesclar coralistas ao nosso grupo do Rio. Acredito que a estratégia desse ensaio em cima da hora deu certo, já saímos dali sabendo do potencial do grupo.
Como seríamos o último grupo a se apresentar, acabei assistindo a todas outras. Caramba, como é diverso esse universo de corais, desde aqueles de pouquíssimos integrantes, aos vinculados a instituições, passando por aqueles vinculados a um passado folclórico, aos dos cantos mais atuais, em síntese, uma festa de possibilidades infinitas.
Finalmente, entra em campo nossa turma, com mais de cinquenta integrantes, o espaço destinado ao grupo, teve cada centímetro ocupado, até fazia calor humano. A primeira cantiga veio a seco, sem apresentação e teve impacto inusitado, toda plateia aplaudindo de pé por muito tempo.
Aí sim, Maurício se apresentou e agradeceu ao grupo. As duas canções seguintes mantiveram o padrão da primeira, e tanto entre o público, como entre nós coralistas foi uma euforia única. Para fechar com cordão de ouro o espetáculo, Maurício solicitou da plateia o canto de um estribilho, enquanto o coral se incumbiria das outras estrofes da música para encerrar o evento.
Se por um acaso tivesse imaginado um cenário, acho que por mais otimista que fosse, jamais atingiria essa emocionada realidade que todos vivenciamos nesse sábado para lá de especial.