VIDA MOTORIZADA SOBRE DUAS RODAS
Alguma coisa está mesmo fora da ordem. Aliás, convivemos com um vale tudo para esses intrépidos pilotos urbanos. Às vezes, acho que provas de habilitação para motocicleta aconteceram na Inglaterra, dada a quantidade desses veículos circulando na mão inglesa, independente se o logradouro é de mão única, você olha para frente, e lá vêm eles descendo a ladeira, sem o menor constrangimento.
Fico impressionado com a destreza desses corajosos motoqueiros, conseguem se deslocar a velocidade superior a 60 km/hora, em corredores com menos de um metro de largura, e o mais importante, dificilmente se acidentam, problemas se restringem aos retrovisores alheios, que não aprenderam a se esquivar, seja do guidom, seja dos poucos retrovisores que restaram nas motos.
Os semáforos, obviamente foram criados para ordenar o trânsito de veículos com mais de duas rodas, muitas vezes em cruzamentos, eles se quer reduzem a marcha, entendendo que frear também é tarefa para veículos, que independem de equilíbrio.
Me deixa também impressionado, a ordenação deles nos engarrafamentos, que proliferam pela cidade, conseguem se posicionar tão juntos uns dos outros, que se por acaso algum carro resolver mudar de faixa, causará um acidente de proporções exponenciais, como o efeito daqueles empilhar de cartas lado a lado, porém, às avessas.
È claro, que engarrafamentos quilométricos das metrópoles, têm associação direta à inoperância do transporte público de passageiros, que propiciaram a explosão no consumo de motocicletas de baixa potência, que permite autonomia para seus usuários, mesmo precisando enfrentar intempéries, seja o calor intenso pelas vestimentas de proteção, seja na chuva, com toda insegurança a ela associada.
Não bastassem as prerrogativas citadas, um novo elemento veio impulsionar a compra desses veículos de duas rodas, o transporte de encomendas, sejam elas comestíveis ou não, e ainda recentemente, um novo elemento veio contribuir para essa alta, a implantação do Uber moto.
Hoje, muita gente depende do emprego informal sobre duas rodas, que carrega características análogas a escravidão, trabalhando sem vínculo empregatício, pagando ainda o financiamento da moto, o que exige atingir um número absurdo de viagens, e assim dispor do valor mínimo para quitar suas obrigações. O resultado fica visível na forma alucinada de conduzir suas motocicletas pelas vias da cidade.
Fui motociclista por algumas décadas, e habitualmente seguia as normas do trânsito. Naquele tempo, nós nos considerávamos motociclistas e dirigíamos nossos veículos com parcimônia, andávamos em corredor sim, mas com velocidade adequada, até porque, boa parte da frota carregava muitas cilindradas, o que demandava mais espaço para o tanque de combustível e o motor.
Fico impressionado com o engessamento das autoridades, que deveriam ser competentes na função de organizar e coibir exageros, com punição exemplar para infratores. Mas todos profissionais regiamente pago para esta função, persistem em se manter congelados em seus escritórios climatizados.
Falta inteligência e pragmatismo para reduzir o contingente de vidas perdidas ou paralisadas, logo após um acidente, que vai gerar a ocupação os leitos de forma abrangente, e por longo tempo, onerando os cofres do sistema de saúde, impedindo assim, o tratamento para outras enfermidades naturais.