Os pássaros da minha cidade...
Pela janela do meu apartamento, vejo e ouço pássaros em orquestra fina, pousados nas poucas árvores que ainda resistem ao crescimento de novas construções de edifícios.
Eles conseguem superar o som dos carros e motos que sobem e descem a avenida acelerando freneticamente, como se estivessem sempre atrasados.
Nem mesmo o ronco dos motores e as sirenes que gritam por socorro abafam seus cantos.
A cidade é de pedra. Poucas árvores. Sensação de guerra. Terra de todos e de ninguém. Mas, ainda assim, tem pássaros.
E eles cantam, sem parar, dão vida a essa vida monótona que também, é a minha vida dentro deste apartamento, que as vezes o sinto como se fosse uma gaiola!
Não importa! Várias espécies cantam do amanhecer ao entardecer. É um canto doce e uma doce brisa para os meus tímpanos. E, é claro, para quem ainda não perdeu a sensibilidade.
A cidade grande nos aprisiona em casas ou apartamentos, como as gaiolas que aprisionam os pássaros.
Felizmente, podemos abrir a porta e voar para outros lugares, como eles, apesar de não possuirmos asas, para não enlouquecer nesta vida, cheia de guerras e de embates. No meu caso, e de outros cidadãos comuns, o único obstáculo são as finanças, que por motivos óbvios nos trancam em nossas casas e apartamentos - Viajar custa! A liberdade custa! E custa muito!
Não muito longe daqui, há praias, há montanhas, há florestas, onde poderíamos ver outros cantos, e usufruir também de banho de mar, ou um banho de cachoeira, mas nem sempre podemos usufruir destas maravilhas.
Mas como os pássaros da cidade de pedra, nossos voos são curtos. Nosso muro é a chamada zona de conforto. Ninguém quer abrir mão dele. Ruim ou bom, ele nos aprisiona. Os roteiros das possíveis viagens são procrastinados, ora por um fator financeiro, ora por comodismo mesmo. E então continuamos nossa vidinha, a mesmice traçada pela monotonia. Correr em busca de dinheiro. Fazer fortuna. Para isso seguimos um roteiro fixo: Dormir, acordar, tomar um café as pressas, ir para o trabalho, num trânsito infernal. Suor e luta, a mesma, todos os dias da semana, dos meses, e na maioria das vezes, por anos afins.
Se pudéssemos traduzir os sons emitidos dentro desta gaiola urbana, ouviríamos uma escola de samba, não com a beleza das baterias que se apresentam afinadas nos carnavais, mas sim como uma orquestra desafinada, quase rompendo nossos tímpanos.
Mas por trás de tudo isso nosso coração é único: ele expressa esperança, jorra amor, e lá no fundo das nossas almas somos felizes. Amores acontecem. Podem ser conjugais, ou fraternos. Somos sim, na essência, humanos, e por isso nos acostumamos com tudo. Somos sim, os animais deste planeta que possui a maior capacidade de adaptação.
Viva a nossa alma. Viva o nosso espírito, que em quaisquer circunstâncias é capaz de amar, a si
e aos seus semelhantes. Proeza única entre todos os animais. E ainda, capaz de viver em sociedade. Para isso construímos vilas, cidades, e fazemos surgir países. É certo que nossa civilização ainda precisa evoluir muito: aprender a dividir, ser menos individualista, mas estamos no caminho certo: crianças nascem, a pedagogia evolui, e com elas a esperança, sempre de um mundo cada vez melhor.
Que mais pássaros surjam e se juntem a essa orquestra urbana, para que cada vez mais ela possa ser mais afinada e menos barulhenta!