Doença Social
A vida não é preto e branco, nunca foi, o cinza – em diferentes tonalidades, é o que nos compõe.
Me disseram certa vez que a vida é multicor, pode ser que sim, mas até mesmo escolher sua paleta de cores pode ser um perigo, pois, mesmo que não se queira, as cores escolhidas irão definir como os outros te vêm, uma bandeira levantada para militar sobre algum assunto, assunto esse que por vezes nem conhecemos direito.
A necessidade de escolher um caminho social, um posicionamento sobre algo, faz com que qualquer coisa relacionada seja vista como antagônica a outra, hoje ninguém espera o outro terminar de falar para retrucar, ninguém ouve o que é dito para compreender, não há reflexão, apenas escutam para replicar ou contestar.
O mundo está tão doente, tão absorto em seu próprio umbigo, que tudo que vai de encontro ao que cada um pensa ser o certo, é rechaçado, as discussões sociais, políticas (no sentido original da palavra), filosóficas, já não existem mais, terminam sempre, ou quase sempre, em trocas de farpas, ameaças, xingamentos, desentendimentos.
Hoje se mata por uma opinião, por uma discussão de trânsito, por uma divergência de raciocínio.
Para que não corramos risco de morte, de rompimento de laços fraternos, de sermos cancelados, precisamos esconder quem somos, não expor nossas ideias, nos aprisionar em nós mesmos, até quando? Voltamos a uma ditadura emocional, à censura afetiva, a nos sentirmos sós mesmo acompanhados.
Tudo isso para que?
Vivemos a pouco uma tragédia mundial que acreditamos ser capaz de mostrar o melhor que temos, mas que na verdade mostrou o que há de pior em nós, será necessária outra tragédia para que possamos enxergar além do que nossos olhos conseguem ver?
A doença social que vivemos está afetando não só nosso raciocínio como nossa saúde mental, ao tentarmos encontrar a paleta de cores certa nos afundamos na mais profunda escuridão.
Como dito, o mundo não é preto e branco, só precisamos saber usar as cores para encontrar a tonalidade que precisamos para ao menos viver com o mínimo de contentamento em um mundo onde ser verdadeiramente feliz é impossível.