foto - Luciah López - com celular


As Flores Brancas...

Não consegui dormir direito, estava muito tensa. Meu filho sofreu um acidente com o carro. Estava chovendo ontem à noite. Chuva e velocidade não se dão bem... Pela Graça e Bondade de Allah, foi apenas um susto, e, o carro para oficina. Mas o coração de quem criou uma vida em seu ventre, fica apertado, sem entender as causas... Não dormir é a coisa mais certa a fazer. Quando amanheceu, resolvi não ir para o trabalho... Meu filho saiu, então, a casa ficou em silêncio e pesarosa demais. Tive que sair também. Caminhar. Gosto de fazer isso para colocar as idéias em ordem... Resolvi ir até o “Mundo de Alice”, nossa pequena chácara, distante de minha casa uns três kms. Como tem chovido sempre, e a estrada é de terra, eu estava sem ir a chácara por umas duas semanas... Quando cheguei, meus cachorros fizeram a festa. São gigantescos e dóceis ao trato. O Mundo de Alice é uma referencia a minha história infantil predileta, é realmente um outro mundo. Um refugio no meio do verde, cheira verde, tem som de verde, tem cor de verde... Verde é vida. Vi os bichos todos. Gansos, galinhas, os coelhos, Nimbus o meu cavalo, sempre batendo com o focinho em minhas costas pedindo algo para comer. Anda atrás de mim como se fosse um cachorro [grande, é claro, mas pensa que é bebê – rs]. Mas meu coração continuava apertado. Respirar aquele ar fresco parecia não fazer o efeito desejado... Meu coração continuava acelerado. Não consigo ler os sinais, sinto-me sem sintonia, como um rádio que não funciona. Comecei a andar, olhando a grama, o rio [2,00 x 0,40 cm e tem peixinhos... rsrsrs] Uma cerca quebrada, uma árvore que tem que cortar e essas coisas...  E o Nimbus no meu pé!!! Senti vontade de fumar [quando fico tensa, sinto falta de cigarro] é estranho porque tem cinco anos que deixei de fumar, mas isso as vezes me tortura... Resolvi ir até a casa, ver se ainda tinha algum cigarro por lá, às vezes deixo guardado. Quando cheguei na varanda, qual não foi minha surpresa?! As flores de minha mãe!!! As flores que ela tanto cuidava e depois de sua morte, eu trouxe comigo e por quase vinte anos cuidei. Água, adubo, troquei de vaso e nada!... Nenhuma flor se abriu! Depois, quando mudei do apartamento para a casa onde moro, este vaso foi parar na chácara e nunca mais trouxe de volta... Acabei esquecendo dele na varanda e a mulher do caseiro sempre cuidou mas flores, nunca! Senti um aperto na garganta, lembrei-me da minha mãe e suas mãos delicadas e pequenas arrumando aquelas flores brancas... Eu, pequena, sempre arrancando alguma para brincar de casinha e sempre ouvindo - “ Mariame, não tire a flor de perto da mãe dela, ela fica triste e morre”. Eu sempre tento ler os sinais que nos são mostrados, acho que tudo tem um motivo para ser. Um amor, que não dá certo, uma flor que não floresce, um acidente que traz apenas danos materiais... Tudo tem uma Mão que nos mostra os sinais, para que possamos evitar tristezas... Mas é difícil ler estes sinais, acho que ainda não aprendi. E hoje, vendo as flores brancas, percebi que o meu coração estava dolorido por medo, pelo amor que tenho por meu filho, meu maior presente, minha continuidade nesta vida, assim como eu sou continuidade de meus pais... Me senti mãe! E as flores ali, pararecendo olgar e sorrir mim... Peguei meu celular e tirei uma foto... Voltei para casa, para beijar meu filho!


 

Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 27/12/2007
Reeditado em 15/04/2022
Código do texto: T794081
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