CONVERSA NA FILA DA PADARIA.

Manhã de segunda-feira, o dia começou agitado, carros disputando espaço pela avenida, crianças correndo para não perderem o horário de entrarem na escola. Sigo o meu caminho sempre atento e observando tudo, chego a padaria do português, a fila está enorme e crescendo cada vez mais enquanto a nova fornada de pão não termina de assar. Na fila, à minha frente, dois velhos amigos se encontram. Inicia-se o diálogo aos ouvidos atentos desse cronista:

— Olha só quem está aí! É por isso que sempre digo, quem é vivo sempre aparece... Bom dia Arnaldo, tudo bem contigo homem. Você sumiu, ficou rico é?

— Rico, eu... Agora... Que nada Tadeu, estou sempre por aí, muito trabalho e pouco lazer. E você rapaz, tranquilo, tá aí com os olhos grudados no celular...

— É o jeito, estou vendo as notícias da guerra enquanto o pão não sai.

— Tá vendo aí... É só isso que passa na televisão ultimamente, dá até raiva, essas guerras sem sentido

— O que você acha de tudo isso Tadeu? Essa situação é bem complicada né. O que tem o cara lá da Rússia para querer invadir a Ucrânia e atacar a essa altura do campeonato? Acho que a pandemia enlouqueceu todo mundo.

— Tudo parte de um grande teatro é isso que eu penso.

— Teatro?

— Sim. Um faz de conta, onde os verdadeiros mandatário da peça nunca aparecem, eles ficam por detrás da cortina fazem e desfazem como bem entendem, eles introduzem no palco os seus fantoches e faz parecer que é por motivos verdadeiros, mas, existe um propósito muito obscuro em tudo isso. É o que eu acho.

— É sempre desse jeito, mas, quem paga o preço são os inocentes, famílias, filhos e pais mortos.

— É o que digo sempre para todo mundo. Boa parte desse teatro é culpa dessa mídia podre, faz apenas o que lhe mandam, escrevendo e falando o que lhes é ditado, um bando de caga regras, muitos acreditam em suas mentiras como se fossem verdades desprezando as verdades como se fossem grandes mentiras.

— É bem isso amigo... Bem isso... Eu gostaria muito de ficar aqui e conversar contigo, mas, vou indo Tadeu. A Marisa está esperando o pão, eu estava esperando assar uma nova fornada para levar pães quentinhos, já ficou pronto, olha aí, vou indo, daqui a pouco ela sai para o trabalho.

— É meu amigo, a tirania do relógio impondo o seu jugo. E ela, está gostando do serviço?

— Acho que sim, nunca reclama, ela sempre gostou de trabalhar no mercado. Ela quer estudar também, mas não sei não.

— No meu tempo era diferente, eu era diferente, para o sistema eu não tinha valor, entende, por isso abandonei tudo. Mas, vai lá amigo, vou ficar por aqui ainda, tomar mais umas, qualquer hora ligo para você, nós encontramos, conversamos um pouco.

— Vou ficar esperando meu velho... Bom tarde para você. Manda um abraço para todo mundo lá.

— Mando sim, pode deixar.

As posições se invertem.

Arnaldo pede cinco pães, mussarela e presunto. Pega suas coisas e se dirige ao caixa, o amigo, Tadeu, senta-se à beira do balcão, pede um lanche, enquanto não fica pronto toma um gole. É a rotina de todos os dias no teatro da vida, amigos que se encontram em uma fila qualquer, apressados demais para uma conversa mais alongada.

Sou apenas mais um nessa fila, um cronista desavisado, atento aos personagens desse palco sem público, se apresentando todos os dias, cada um com o seu universo particular tentando o seu espaço em um mundo cada vez menor.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/11/2023
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