Um Mundo sem paredes
O tempo que passa num grão de areia do deserto é o mesmo que passa para você, mesmo que aquele grão tenha se desprendido de uma montanha e te mostre que a vida é pequena demais para ver.
E não adianta chorar, clamar, suplicar, ajoelha-se que os nossos olhos não virão o tempo passar. Não virão os ventos fazer dunas no deserto nem os vales se transformarem em cachoeiras. Sinto a vida e o tempo como uma fotografia em deterioração que está longe de ser um quadro pendurado numa parede.
Uma paisagem linda de seres humanos comemorando um dia de chuva, quebrando paradigmas, tirando suas roupas para sentir cada gota escorrendo pelos seus corpos num horizonte sem paredes, sem arvores e com algumas montanhas tão distantes que se confundem com as nuvens que os cobrem.
Um pouco de alegria numa pausa do sol, não que esse astro não seja necessário a vida, ao contrário, mas lá fora está muito quente ao ponto que eu não me ousaria a comparar com os amores das noites de inverno e céu limpo.
A natureza as vezes parece ser bipolar, mas é só a gente não se colocar no centro das atenções, que compreenderemos, que o que colocamos no palco são os nossos egos deitados sobre os bastidores da natureza.
Daqui eu vejo as estrelas de onde componho esse espaço vivo, mandaram satélites para ver a “borda do universo”, querem minerar a lua como se o universo tivesse limites e nós não, mapearam nosso mapa genético por completo, mas a vida continua sendo vida. o que descobriram depois das bordas foi que existem galáxias ainda maiores que a nossa aqui.
O deserto me ensinou que estamos apenas no começo. Algumas coisas acabaram de surgir, é verdade, não importa se foi há alguns milhões de anos. Mas somos pequeninos de mais para ver o fim no mundo sem paredes