COLETÂNEAS - POLIFONIA LITERÁRIA

COLETÂNEAS - POLIFONIA LITERÁRIA

"FLIP - ...festivais representativos devem

romper com a restrição da Literatura a um

mesmo grupo editorial ou grupo de amigos".

FERNANDA BASTOS (editora/RS)

Depois do "fim do Mundo" que foi a "Era Bozzo" -- cujos resquícios hão de perdurar por uns 10 anos -- temos e vemos a volta da Feira literária de Paraty, agora como "Festa Internacional" completando 20 ANOS de resistência... e até comemorando "concorrentes" direto dela. A Feira inova, a FESTA é para todos (e "todes, todus", etc), com espaço, VOZ e vez para a "arraia miúda" da Escrita, normalmente ignorada (ou menosprezada) em eventos de tal porte. Essa FLIP me fez recordar meus primeiros dias de "rabiscador", ansioso para ter meu poema em algum livro, naqueles tempos (os anos 1980) com o ousado título de "Antologias", o que efetivamente não eram. (*1)

Já de passagem marcada para vir para Belém estreei em dez./1983 na primeira coletânea das 16 ou 17 onde meu nome e meus escritos estão inseridos, a maior parte com poemas. Surpreso, recebi o livro "no meio do mato" -- quando o Correio prestava ! -- ou melhor, fui buscá-lo na modesta Agência da cidadezinha tricentenária com o curioso nome de... VIGIA ! Era também a edição inicial de uma certa Editora CHRYSALLIS, que faturou "horrores", fez um sucesso danado e provocou a ira das concorrentes, que não tiveram a mesma feliz idéia. Dizem que o dono dela seria o Paulo Coelho e a difamavam, estaria a INCENTIVAR "pseudoescritores", gente "de poucas letras" e que sequer dominavam nosso idioma.

Realmente, em parte tinham razão... porém, na visão preconceituosa de então, só se devia publicar algo "quando se ficasse FAMOSO" ! Resta saber quando tal milagre sucederia ! Claro que sempre protestei -- junto aos Editores -- para alertarem os autores sobre falhas gramaticais em seus textos. Pura perda de tempo ! Optavam pelo "modus operandi" dos Jornais... "que não se responsabilizam pelos textos publicados". Porém, jornais vão pro lixo no fim da tarde e LIVROS PERDURAM por décadas.

Em meus primeiros dias em Belém (1986/87) exibi o exemplar de capa verde com meu poema -- que um neto do genial sonetista Alonso Rocha musicou -- e tive do fotógrafo Rufino Almeida um comentário desabonador. Tais coletâneas "não valiam 1 centavo"... deu azar, pouco depois o poeta José Ildone, à frente de Depto na IOE - Imprensa Oficial do Estado (PA), inauguraria a primeira edição oficial de uma coletânea surgida a partir de concurso sobre Belém, mais de 300 páginas, abrangendo escritores modestos e também os consagrados. Se bem me lembro, Rufino não participou... era coletânea !

Estou nela, página 217 salvo engano, com poema com "raízes" (e rimas) no Cordel, citando as belezas de Belém. Isto a que chamo de "obra de bajulação" nunca dá um bom texto literário (seja prosa ou poesia), mas eu queria estar nela. Logo depois, a APL - Academia Paraense de Letras, tendo o imortal Hélio Gueiros como governador do Pará, inauguraria em 1989/90 o que seria, na minha visão, um "misto de antologia com coletânea" (?!), englobando os grandes nomes literários locais nos volumes iniciais (dos 1700 aos 1900 e tal) e todo escritor atual com alguma produção naquele momento.

Envolvido num "bate-boca" desnecessário sobre os destinos da APE - Assoc. Paraense de Escritores -- presidida justamente pelo prof. Ildone -- acabei "alijado" (não por ele, esclareça-se) dos seis ou sete volumes, "peixe fora d'água", em edições sucessivas, indo até 1994 ou 95. Continuo A DEFENDER as coletâneas, elas formam futuros autores, embora a maior parte fique só naquela edição inicial, ou por falta de material ou pela vaidade já satisfeita e porque nunca é barata a participação nelas. Aqui em nossa Cidade o jornalista e influencer Rui Santana inaugurou a prática em 2008 e a nóvel ALANIN - Academia de Letras de Ananindeua promete uma para julho/agosto de 2024... tais produções não fazem mal a ninguém e servem como INCENTIVO para quem sonha trilhar o caminho da Escrita, "essa árdua estrada / de pedra e flores, / de alegrias e dores", já dizia o Poeta.

"NATO" AZEVEDO (22/nov. 2023, 18hs)

OBS: (*1) - evento dos mais concorridos, promovido pelo "Jornal IGAÇABA" -- de João Weber Griebeler, da cidade de Roque Gonzales/RS -- foi o famoso "Prêmio MISSÕES", que era sucedido no segundo semestre de cada ano pelo "Letras Contemporâneas" e, JUNTOS, publicaram centenas de autores (529, até meados de 2005) a partir de seus Concursos Literários, UM MARCO para a Cultura gaúcha.

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COISAS DO DESTINO... meu exemplar do "8º Prêmio MISSÕES", de 2005 -- com 3 páginas me patrocinadas pela ESMAC, FRUTEIRA CEASINHA (de Eduardo Nakamura) e pela METALÚRGICA ROBLEDO -- me voltou às mãos em 2020, achado em um "lixão" próximo de casa. Trazia dedicatória minha para a SEDUC municipal, afirmando... "SONHAR com coletânea semelhante aqui, como incentivo maior para FUTUROS POETAS, contistas e artistas de Ananindeua". (em 28 de junho/2005).