Um Banco no Jardim
Crescer dói. Poucos clichês são tão reais quanto esse. Mas clichês são clichês por um motivo.
Não é exatamente da dor, no entanto, que acredito que venha o crescimento. É da decisão do que fazer com essa dor. É da ação.
Um dia eu estava com o coração quebrado em mil pedaços, pequenos cacos remendados e pulsando sangue no meu peito. Do auge da minha angústia, com o rosto já encharcado de lágrimas, ouvi a pergunta:
"E o que você vai fazer com toda essa dor?"
Levei um choque. O que eu iria fazer com toda essa dor? Eu já tinha voltado para a terapia. Decidi que iria começar a fazer yoga. Iria voltar a correr. Marquei salão para pintar o cabelo. Também vou viajar. Também vou ficar um pouco em casa. E aí? Isso é só uma agenda cheia. O que eu iria fazer com a minha dor?
A resposta é... não sei. Os mil acontecimentos dos últimos anos ainda estão em processamento na minha cabeça. Tenho vivido, sentido o vento, me apaixonando por versões de mim e de outros.
Por outro lado, acho que estou mais generosa comigo mesma. É preciso estar presente no presente para chegar ao futuro com algum senso de paz. Neste momento olho à frente.
Tem um grupo de pessoas com crianças no lugar em que estou agora, o jardim do Museu da República. Tem um vento forte e pingos de chuva. O lago está lindo, com patinhos nadando de um lado para o outro. Tem um pai jogando bola com um menino bem pequenininho.
Estou sozinha do outro lado. Sentada no banco. Sentindo o vento e observando a paz e a felicidade... dos outros. Quero muito me levantar desse banco. Quem sabe um dia eu consigo morar do outro lado do jardim.