O teatro dos perversos

O túmulo ao lado. O velório acontecendo. Se aproximam parentes, abraçam, choram, tentam confortar com palavras. A maioria com a mesma fala decorada:

"Qualquer coisa me chama, tá??"

"Qualquer coisa que você estiver precisando, me avisa!!"

Passam-se os meses, aparecem as dívidas que ninguém quer pagar. O dinheiro que ninguém quer dar, nem emprestar. Os mesmos parentes que choraram, lamentaram e prometeram ao lado do corpo que ajudariam no que precisasse. Pois se precisa e não se pede porque sabe que não cumpririam. Não era de verdade, era só um teatro, mais um ritual de falsidade que essa gente adora participar. Mesmo se não fazem por mal, se apenas atendem aos caprichos de suas consciências fracas. É cada um por si. Família continua sendo apenas parentesco e nada mais. Dos verdadeiros amigos, esses sempre ajudam quando podem, no que podem. Na maioria das vezes, família é um compromisso forçado que nos faz ver o quão dissimulado se pode ser.