Espelho

Olhando pelo espelho pela manhã, admiro-me com a clareza que entra pela janela. É como se algo novo tivesse sido revelado. A impressão de que sempre me vi da mesma maneira por meio da luz interior acaba por ficar de lado; a clareza vinda da janela me parece tão mais esclarecedora. Não sei se esclarecedora é a palavra, mas a satisfação de lidar com algo não construído por mim é leniente. A luz vinda da janela, apresenta-se duvidosa; tão reconfortante. Uma impressão sendo espelhada, e uma impressão não criada por mim, mostra-se mais edificante que meu próprio delírio. E existe algo não mais edificante que meu próprio delírio? A indagação forma-se a partir da desilusão da própria imagem, ou de sua falta? Falta de desilusão ou falta de imagem? Em um reflexo inexistente, tudo é formidável. Se for algo criado por si, a verdade torna-se tão mais displicente. Afinal, tudo criado por si mesmo é contestável, quando o si mesmo é contestável; sendo contestado, por si mesmo.

Moreli
Enviado por Moreli em 22/11/2023
Reeditado em 01/12/2023
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