FAVOR OU DÍVIDA?

Certa vez, Jesus montado num burrinho, era seguido pelos apóstolos. Quando se aproximou de uma pequena cidade, os primeiros habitantes vieram ao seu encontro. Alguns os saldavam emocionados, outros os convidavam a entrar em suas casas. Um homem sem nada falar atraiu o olhar do Nazareno. Jesus parou e olhou na sua direção. A multidão, sem quem ninguém mandasse emudeceu. Diante do silêncio e do olhar indagador de Cristo, o homem disse: - Senhor! Cure meu filho.

Jesus apeou do jerico, andou em direção ao homem e disse:

- Leve-me ao seu filho.

O homem caminhou na frente seguido por Jesus, os apóstolos e pela multidão. Chegando à moradia do homem este ordenou a mulher que trouxesse o filho à porta. O rapaz foi colocado no chão, tinha os membros inferiores cobertos por um pano grosso e não andava. Tinha as pernas entrevadas. Jesus abaixou e de olhos fechados apalpou as pernas do doente. Permaneceu assim por alguns minutos. De repente levantou-se e ordenou que o rapaz se levantasse. Apoiado pelo pai e com algum esforço o doente pôs-se de pé e prosseguiu com alguns passos, sob grande ovação dos que o observavam. Jesus foi imensamente exaltado. O pai do rapaz ofereceu a Jesus e aos apóstolos pão e vinho. Anos depois Jesus e os apóstolos retornaram aquela pequena cidade. Quando o pai do rapaz por Ele curado ficou sabendo da presença de Jesus, correu a sua procura, e lhe trouxe oferendas. Jesus então indagou ao homem:

- Qual o motivo do regalo?

- O senhor curou o meu filho, Mestre! Tenho que mostrar a minha gratidão.

- Eu sei. Mas não me deves nada. Na ocasião também me destes pão e vinho. Não só a mim, mas também aos meus apóstolos. Nos dois fomos favorecidos. Não é preciso que toda vez que me veja queira me presentear. O bem que prestamos, não deve ser motivo eterno de agradecimento.

É certo o rejubilo momentâneo, mas incorreto ser incessante, pois exterioriza aparência de dívida. A caridade ou o bem que é feito, se cobrado, torna-se desfeito. Fique em paz.

Como visto, o bem que se faz não deve ser objeto de eterno reconhecimento e ou cobrança. Algumas pessoas passam a vida a cobrar um favor prestado. O ato torna-se dívida irresgatável. Coloca o favorecido refém do praticante da boa ação.

Melhor seria se o praticante tivesse cobrado pela boa ação. Assim não geraria dívida.

Conheço um rapaz que ao saber da morte da mãe pediu carona a um amigo para chegar mais rapidamente em casa. O amigo o atendeu, mas sempre que o via relembrava o fato dizendo e vangloriando-se:

-Lembra-se da morte da sua mãe? Se não fosse a carona que te dei, você não teria chegado a tempo.

O favor prestado tornou-se uma dívida. Não se vê neste ato uma boa ação, mas um ato mercantil. Totalmente ao contrário do que pregou Cristo.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 27/12/2007
Reeditado em 08/02/2008
Código do texto: T793790
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.