O TRABALHO (DO MENOR) DIGNIFICA O SER HUMANO
Estive hoje no Tribunal de Justiça para certa tarefa e ao cumpri-la me dirigi à Afpesp, local bem próximo de onde me encontrava. A melhor opção foi ladear a Praça da Sé, para evitar a parte central; contudo, mesmo assim não me escapou uma realidade muito triste, em FRENTE AO PALACIO DA JUSTIÇA: crianças a se entregarem ao vício e ao total abandono. Me veio à lembrança a seguinte verdade: Em abril de 1951 estava eu com 12 anos de idade, repito 12 ANOS DE IDADE. Surgiu-me oportunidade de ser admitido na empresa telegráfica The Western Telegraph, na Rua 15 de novembro, alguns metros de onde eu passava. Ponderei o seguinte: naquela oportunidade de minha adolescência, a receita familiar de meu pai, humilde funcionário público da época, apesar de todo esforço paralelo, era insuficiente e o salário de menor ajudava em muito e, NÃO ERA ILEGAL O TRABALHO DE MENOR, DESDE QUE, PARALELAMENTE, OBTIVESSE UMA FORMAÇÃO PROFISSIONAL, avaliada por um Juiz de Menores. Assim fui admitido e com registro oficial na carteira vermelha de menor aprendiz, mediante bom salário. Vigora atualmente a infeliz ideia de que menor não pode trabalhar para manter sua dignidade! Mas a infância e adolescência pode ficar abandonada, na Praça da Sé e em muitos outros locais, às vezes armados e sujeitos à contratação do crime organizado para prática de delitos? Onde a racionalidade social desse entendimento político? Em que eu e muitos outros menores que conheci e trabalharam com 12 anos foram prejudicados. Tive alguns colegas de trabalho e para citar um deles, hoje é oficial da P.M. reformado; outro, perito criminal; outro, empresário e paro por aqui pelo excesso de bons exemplos. No meu caso, trabalhei 21 anos na mesma empresa, me formei na Faculdade de Direito da USP; me dediquei ao magistério e me aposentei como desembargador do TJSP. Senhores políticos e demagogos, indago DE QUE MODO FUI PREJUDICADO POR TER TRABALHADO DESDE 12 ANOS DE IDADE? Será que alguém pode refutar essa realidade? Não me venham com o argumento de que os tempos são outros, porque vivemos a mesma realidade econômica e necessidade de trabalho; no entanto demagogicamente se encobre a realidade com argumentos sofistas, fortemente egoístas.