GARRINCHA

Ronaldo José de Almeida

Os jornais da época estampavam em letras garrafais a façanha dos astronautas Neil Armstrong e Edwin E. Aldrin, que realizaram o sonho de toda a humanidade. A conquista da lua. Um terceiro astronauta, Michael Collins, permaneceu no módulo de comando da Apollo XI, enquanto seus dois companheiros realizavam a suprema aventura de pisar o solo lunar. A lua não pertencia mais aos namorados. (20/07/69)

Alguns dias depois, ainda sob enlevo do ato heróico americano, um garoto de pouco mais de dez anos, após almoçar, sai de casa e dirige-se a casa do seu amigo Roberto, fato contumaz.

Devido à liberdade entre os amigos, não precisou nem tocar a campainha da porta da casa, adentrou sem a menor cerimônia.

Os dois companheiros conversavam amenidades no quarto quando ouviram vozes estranhas na casa, por curiosidade saíram e foram a sala verificar o que acontecia.

Qual não foi a surpresa quando constataram a presença de ninguém mais que o diabo das pernas tortas, Garrincha, o craque do Botafogo e da seleção brasileira. Ele estava na cidade para uma partida de futebol promocional e integrava uma seleção de veteranos.

Os garotos perderam a voz. Sentado no sofá da sala Garrincha e um senhor desconhecido, conversavam animadamente com o Seu Euclides, pai do menino Roberto, sobre bicudos.

O homem era criador de Bicudos, possuía uns 20 pássaros em gaiolas bonitas; Garrincha também era criador, e quis conhecer Seu Euclides e ver de perto as aves.

Seu Euclides presenteou o craque com um bicudo, ficaram amigos, tiraram fotos abraçados, tudo num clima de festa.

O garoto não saiu de perto do craque, recebeu afagos na cabeça e palavras amigas e um autógrafo.

Ao sair Garrincha agradeceu o presente, deu um abraço afetuoso no Seu Euclides, no seu filho Roberto e no garoto amigo.

Garrincha foi embora feliz com o presente, mais feliz ainda ficou o garoto, afinal não é todo dia que se encontra uma craque como Garrincha, olhando passarinho, ainda mais em Montes Claros.

O prestígio dos meninos aumentou entre os coleguinhas. No dia seguinte os dois garotos foram ao estádio assistir a partida de futebol, Garrincha arrasou seus marcadores com dribles desconcertantes. No final quando se dirigia para o vestiário, passou perto do alambrado onde um dos garotos gritava seu nome desesperadamente no afã de ser reconhecido pelo ídolo. O craque olhou, reconheceu o menino, fez um aceno com a mão e disse: Como vai meu amigo, gostou do jogo?

Para o garoto foi a glória, até hoje não esquecida.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 27/12/2007
Reeditado em 29/12/2007
Código do texto: T793724
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