EL NIÑO E AS PEDRAS NO CAMINHO

Foi há exatos trinta e nove anos atrás que tomamos conhecimento do fenômeno climático batizado de “El Niño”, numa alusão ao menino Jesus, pois ambos têm o mês de dezembro como referência de nascimento. Já o seu oposto “La Niña”, recebeu recentemente seu nome definitivo, antes chegou a ser chamada de “El Viejo”, ou mesmo de “Anti Niño”.

Em nossa primeira e mais longa viagem ao exterior, para comemorar o casamento, nos deparamos e ouvimos pela primeira vez esse tal de “El Niño”. Transcorria o mês de fevereiro e nosso objetivo depois de passear pelo Vale Sagrado dos Incas, Machu Picho aí incluído, era enfim chegar a Lima.

Para nossa surpresa nos deparamos com uma pedra no meio do caminho, e ela não era para brincadeira, respondia pela alcunha de “Sendero Luminoso” que muito atual, ainda usava dois ícones da revolução russa de 1917, a foice e o martelo, e impedia tanto a locais, como a turistas circular por boa parte do interior do país.

Para os menos afeitos ao espanhol, esse tal de ”Caminho Iluminado” deveria na realidade se chamar “Caminho Interditado”, o que fazia a distância para a capital peruana crescer em mais de 500 km. Como desgraça pouca é besteira, então adentrou ao gramado “El Niño”, para complicar ainda mais nosso roteiro até Lima.

A parte norte do litoral chileno e praticamente todo o peruano, em condições normais de temperatura e pressão nunca chove. Para se ter uma ideia mais precisa desse fenômeno, basta lembrar que boa parte da população mais pobre de Lima, até então construía suas casas sem telhado.

Acredito que muita gente nunca transitou pela Pan-americana, e portanto desconhece o que é uma estrada espremida entre as peladas montanhas Andinas e as gélidas águas do Oceano Pacífico.

Num lugar que não chove para quê se preocupar com os custos de drenagem ou contenção de encosta? Eis que entra em cena o lépido e fagueiro menino que se amarra numa brincadeira com água, muita água, pois nunca teve ninguém para lhe dar limite.

Engraçado que ainda hoje tem gente que não acredita nas mudanças climáticas e continua achando tudo muito natural. Resumo da ópera, engarrafamentos quilométricos aliados ao desabastecimento, pois a pouca aprazibilidade do trajeto nunca animou comerciantes a se estabelecerem ao longo da estrada.

Esse ano, mal iniciado, mostra do que é capaz essa peralta menina, que também se diverte muito com água. Do lado de cá da Cordilheira Andina estamos assistindo a chuva cair sem trégua no norte e sudeste do país, enquanto o sul passa por sua pior seca registrada. Por outro lado, aquele calorão típico do verão carioca até hoje deu as caras, e vivemos na minha concepção o mais ameno verão de muitas décadas, e tudo indica que não haverá mudanças nos próximos meses.

Pois bem, depois de muito perrengue, que incluía na agenda trabalho comunitário, tanto para aterrar buracos gigantescos, como retirar da estrada pedras e terra, finalmente conseguimos chegar a Lima, tarefa comparável a um parto complicado. Voltar então, nem vou fazer o prezado leitor morrer de pena, desse que escreve essas mal traçadas linhas.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 21/11/2023
Código do texto: T7937140
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