Perennials
“Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?”
Essa provocação, atribuída a Confúcio, caiu no meu colo a duas semanas do meu aniversário.
Difícil responder, né? Percebo meu momento atual e estado (físico, mental, espiritual) incompatíveis com os meus quase 48 anos. E foi exatamente o que me intrigou. No começo do século XX, Einstein nos ensinou que o tempo é relativo. Mas será que dá para relativizar a idade?
Você certamente já viu um jovem com trejeitos, vocabulário e gostos de um idoso. Uma “alma velha" como dizem. E está cada vez mais comum vermos pessoas 60+ pulando de bungee jumping, se casando ou abrindo empresas. Apesar do etarismo persistente no mercado de trabalho, está comprovado que a idade não impede, necessariamente, a realização de sonhos e projetos.
Esses dias, li sobre um senhor de 90 anos que acaba de se formar em medicina lá em Goiás. Ele está entre tantos exemplos históricos como Charles Darwin, que publicou A Origem das Espécies aos 50 anos; ou Cora Coralina que só foi reconhecida aos 91, quando Drummond escreveu um artigo sobre ela para o Jornal do Brasil.
Mas uma crisezinha tem aí. Às vezes me sinto tão mais jovem que minhas rugas denunciam e, outras, acho que já deveria ter conquistado muito mais a esta altura.
Talvez esse seja o dilema central do meu grupo etário, o pessoal da chamada “meia idade”: somos jovens para sermos velhos e velhos para sermos jovens, como profetizou a Sandy.
Meu pai dizia que, mesmo com sessenta e tantos anos, por dentro, se sentia eternamente como um guri de 8. Talvez a idade seja só mesmo um número, uma referência de quanto do caminho já percorremos neste plano.
Só sei que recuso rótulos. Não venham com essa de meia idade pra cima de mim! Seja quantos anos tenham se passado desde o meu nascimento, minha idade será sempre inteira. Aliás, assim como eu. A única meia que eu aceitaria, se ainda pudesse, é a (meia) entrada no cinema.
Mas, respondendo à pergunta lá do início: não sei e não importa. Para mim, a idade só tem efeitos burocráticos. Como disse Fernando Pessoa: “sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo.”
Já me segue no Insta? @mirandaboth_