LA TRAVIATA, QUANDO NADA DÁ CERTO

Partimos direto do coral em São Cristóvão para o Centro com o objetivo de chegar ao Teatro Municipal exatamente na hora da abertura das bilheterias para a ópera La Traviata.

Enquanto minha esposa encarava a pequena fila para compra de seis ingressos, outras pessoas do coral estavam também interessadas em assistir o espetáculo. Eu a esperava no carro por um tempo bem superior ao que estimei, sempre com algum policial lembrando que estava sujeito a uma multa por estacionamento irregular.

Quase ficamos sem lugar no balcão nobre, a instituição privilegia compras pela internet, pois cobra um adicional, ou seja, lucra mais vendendo on line. Acabamos conseguindo apenas poltronas numa lateral do balcão nobre.

O domingo chuvoso do espetáculo inibiu qualquer programação externa, acabamos permanecendo em casa. Descuidamos-nos do horário, o que obrigou fazer o trajeto de carro. Pensei cá comigo, domingo à tarde no Centro, vai ser molinho conseguir estacionar. Ledo engano, os ditos flanelinhas monopolizaram o entorno do teatro. Ao me aproximar de um deles, já foi logo avisando, são trinta reais e pagamento antecipado.

Fui procurar outro lugar para deixar o carro estacionado, e felizmente logo consegui. O melhor ainda estava por vir.

A entrada no teatro foi relativamente tranquila, tomamos nossos lugares nas poltronas de veludo vermelho. O mal estar chegou quase de imediato, e isso ficou visível na expressão das pessoas próximas. Enquanto o suor ia gradativamente aflorando por todo o corpo, algumas senhoras retiraram seus leques, que de pouco valia, pois deslocar ar aquecido não resulta em nenhuma redução de temperatura.

Para neófitos explico, o espetáculo tem duração prevista de três horas e vinte minutos, com dois intervalos de quinze minutos.

Nem numa sauna seca permanecemos tanto tempo sob alta temperatura, e além disso, nossos trajes não estavam adequados para o ambiente, e claro também não dispúnhamos de uma ducha para espantar o calor.

Todo mundo lembra que a tendência natural do calor é subir, por estar em andar intermediário, provavelmente não estávamos no pior dos mundos, esse calorão se destinava aos espectadores da galeria, no topo do teatro.

No primeiro e segundo intervalos caminhei até o banheiro para enfiar a cabeça debaixo da bica da pia, conseguindo assim um bem estar momentâneo.

Para completar o drama, exatamente atrás da minha poltrona, um casal tagarelou durante todo o tempo regulamentar, apenas nos dois intervalos o papo foi paralisado.

Um detalhe importante, em nenhum momento a direção do teatro veio a público se desculpar ou explicar a razão pelo incômodo generalizado.

Agora do espetáculo, prejudicado por tudo isso, imagino inclusive que o corpo do teatro tenha sofrido ainda mais que a platéia, basta pensar que no palco todos trajavam roupas mais adornadas e pesadas, e ainda precisando estar em constante deslocamento, ufa!

Belos cenários com mudanças bem elaboradas, indumentária esmerada, bem adornaram a boca do palco, mas infelizmente o que prevaleceu dessa tarde/noite foi o mal estar causado pelo calor.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 20/11/2023
Reeditado em 21/11/2023
Código do texto: T7935962
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