VIAJEM À FRANCESA

Para o casal seria um dia para lá de especial, estávamos prestes de vivenciar a experiência de uma viagem no TGV, o Trem de Grande Velocidade francês num trajeto icônico, Bordeaux/Paris.

O que passava pela nossa cabeça no momento era a curiosidade de saber, como nos comportamos a uma velocidade tão grande sem quase sair do chão?

Esse quase do parágrafo anterior pode ser explicado da seguinte forma, a geração de um campo magnético de levitação usando energia elétrica suspende o veículo. Em estando no ar, entra em ação um segundo campo magnético, o campo de deslize, que impulsiona o trem. Sem atrito com o solo, ele pode alcançar até 575 km/h, embora se desloque habitualmente a 300 km/h.

Depois de ingressar no trem, saímos à procura de nossas futurísticas poltronas, que logo constatamos também como ergométricas.

Na espera pela partida fiz rápida pesquisa visual, rapidamente constatei uma característica comum entre nossos vizinhos de vagão. Surpresa, todos, sem exceção já tinham ingressado na fase idosa há muito tempo, num primeiro momento me senti apreensivo, teria entrado indevidamente num vagão de uso exclusivo para anciãos?

Minha dúvida foi sanada quando o fiscal da companhia solicitou o bilhete da viagem e nada aconteceu. Ainda bem que não tinha feito nenhuma besteira à francesa.

Finalmente, a composição começou seu deslocamento, impressionante a tecnologia que permite que numa fração de tempo, fazer a paisagem externa acelerar.

Concomitantemente, dentro do vagão outra força estranha passou a gerar sons e cheiros familiares. O grupo, praticamente de maneira simultânea, abriu suas maletinhas e delas sacaram generosas porções de queijo e pãezinhos variados, em seguida, depositaram quitutes sobre a mesinha fixada na parte posterior das poltronas.

Agora, chegou à vez das garrafas de vinho, daquele tipo pouco comum por aqui, com prováveis 300 ml, também depositadas sobre a mesinha. Finalmente, chegara à vez do ruído dos talheres de metal, do saca-rolha e das tacinhas de vidro.

Até me distraí com a algazarra organizada, fui abduzido pela inusitada transformação de um vagão padrão, em salão de refeição, em pouco tempo o ar ficou carregado das emanações dos componentes daquele piquenique ferroviário.

Saciados num primeiro momento, aí sim o bicho pegou, na realidade os idosos faziam parte de um grupo que organizara excursão até aquele momento bem planejada a badalada capital francesa.

Quando a paisagem externa passou a ficar eminentemente urbana, a agitação tomou conta do grupo, que nessa altura da viagem já organizara a maleta de viagem, e todos aguardavam ansiosos o sinal da organizadora para ordeiramente deixar o vagão.

Lá fora um universo de novidades aguardava para ser visto, bebido e comido e com toda avidez tão comum aos longevos franceses do interior.

Logo, nós também ansiosos procuramos a estação do metrô mais próximo, pois Paris foi feita para andar a pé na parte histórica e de trem nas cavernas construídas sob a cidade. O ideal seria logo encontrar nosso hotel e lá deixarmos nossas bagagens. Em seguida, flanar por Paris até a fome incomodar.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 19/11/2023
Código do texto: T7935298
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