Bolsonaro e a baleia jubarte.
Depois de Jonas e a baleia, um épico bíblico, agora Bolsonaro e a baleia, um épico de ares bíblicos caricatos.
Não se pode negar a criatividade dos bípedes implumes, sempre às voltas com histórias do balacobaco.
As baleias estão presentes em histórias universais. Uma delas é a de Jonas, de todas a mais universalmente conhecida, que inspirou muitas metáforas, inúmeras alegorias; outra, a da famosíssima criatura de Herman Melville, Moby Dick, que Ahab caçava, por ela obcecado. E não nos esqueçamos a do Pinóquio. E há outras por aí e por aqui, muitas delas interessantes, todas, reunidas, a pedirem um estudo minucioso acerca de seus símbolos culturais, religiosos, mitológicos, psicológicos, espirituais.
Deixemos tais histórias de lado, e vamos nos concentrar na que ora envolve o presidente Jair Messias Bolsonaro.
Eu soube, saiba, leitor querido, amado e dedicado, e talvez tu também saibas, que estão a investigar caso escabroso, do grotesco e do arabesco, de inspirar indignação em todo ser vivente, caso que envolve uma baleia, das da jubarte, e o presidente Jair Messias Bolsonaro, este a representar, para surpresa de ninguém, o vilão da história, que daria uma bela, extraordinária obra da sétima arte, um dos maiores clássicos cinematográficos de todos os tempos.
O caso é extraordinário: não sei há quantos dias, alguém - Quem?! Quem?! -, ao volante de sua possante moto-aquática, a executar manobras radicais nas ondas do litoral de alguma cidade brasileira - e cidade litorânea, vê -, aproximou-se, inadvertidamente, e perigosamente, semcerimoniosamente, assim, sem mais nem menos, sem dizer porque sim e porque não, de uma baleia jubarte, tirando-a de seu comportamento natural, o de uma baleia, que nadava tranquilamente, até que o insensato, irresponsável piloto da nave marítima inconsequentemente roubou-lhe a paz de espírito. A identidade do piloto da embarcação aquática, desconhecida; suspeita-se, no entanto, todavia, porém, entretanto, pois bem, que tenha ela a cara, o nariz e o focinho do presidente Jair Messias Bolsonaro. Nesta trama folhetinesca de ares rocambolescos, o presidente Jair Messias Bolsonaro tem a importância do mordomo nas histórias policiais: é, sempre, infalivelmente, o suspeito número um, e o culpado mesmo que seja inocente.
Querem os investigadores respostas: Por que aproximou-se da jubarte o piloto do veículo aquático? Quis importuná-la? Cooptá-la para uma ação golpista? Assediá-la, para satisfazer seus desejos, dele, o piloto, lúbricos? Quais propósitos o moveram em direção à pacífica baleia? Quais?!
Incapazes de resolverem a questão a contento, os investigadores entenderam que apenas com o testemunho da baleia jubarte poderão colher, e reunir, informações que projetarão luz sobre o caso. Para empreenderem tal façanha, pois é o caso, de fato, uma façanha, e das épicas, acharam por bem divulgar o retrato falado da baleia jubarte que o piloto da moto-aquática desrespeitou, ofendeu, agrediu, seviciou ao assediá-la, requestá-la, tão inadvertidamente, tão luxuriosamente, tão desrespeitosamente: tem a baleia olhos de baleia, boca de baleia, orelhas de baleia, barriga de baleia, pescoço de baleia, nariz de baleia, escamas de baleia, cauda de baleia, guelras de baleia, dedos de baleia, mãos de baleia, pés de baleia, testa de baleia, enfim, corpo de baleia, pois é a baleia uma baleia.
Com a divulgação do retrato falado da baleia, esperam os investigadores, esperançosos, que alguém, reconhecendo-a, e conhecendo-lhe o paradeiro, dê-lhes informações imprescindíveis à ação que redundará numa acareação entre ela e o piloto da nave marítima. Querem os investigadores a solução do caso o mais rapidamente possível. Se demorarem para resolvê-lo talvez não consigam evitar que com as baleias jubarte se dê o mesmo destino das girafas da Amazônia: a extinção.