Quarta-feira
Uma lufada carregada de terra vermelha preenche a tarde vazia. Dentro do Uno 95 observo o fenômeno esperando o sinal abrir. Não tenho ar condicionado e o suor que brota da testa molha as lentes dos óculos causando um desconforto visual. O semáforo fica verde, arranco e logo na primeira curva ouço o estouro da mangueira do radiador seguido do vapor que escapa do capô.
Encosto o carro e desligo o motor. Já acostumado com esse tipo de situação, adquiri o hábito de carregar duas ou três abraçadeiras no porta-luvas e uma garrafa grande com água, que dessa vez esqueci. Saio, fecho a porta e procuro algum lugar com torneira e um balde enquanto o motor esfria. A poeira do ar gruda na camiseta suada criando uma pasta desagradável de carregar.
O telefone vibra no bolso esquerdo da calça. É o Matias da agência; pedem notícias e que eu as mande de casa. Uma árvore caiu sobre um poste que alimentava a eletricidade do prédio e a previsão de retorno da rede é só pra amanhã. Avisto uma lanchonete próxima que parece ter ar-condicionado.
Há dois clientes em mesas distantes comendo salgados e bebendo refrigerantes. Sento no balcão aproveitando a atmosfera mais fria. A atendente pergunta o que quero com um sorriso que me tira da letargia. Peço um suco de laranja e um quibe, aproveito pra puxar conversa sobre o clima e protelo o fim do dia.