REMADAS NA LAGOA

A Lagoa Rodrigo de Freitas convive bem com o peso de um ícone numa cidade que a natureza prevalece sobre o ambiente construído, especialmente nesta paisagem que mescla águas plácidas, tendo como pano de fundo, a verdejante Mata Atlântica da Serra da Carioca, entremeada por inóspitos afloramentos rochosos, com destaque para o Corcovado, tudo bem delineado pelo azul do céu.

Esse primeiro parágrafo até parece conversa de guia turístico, que de dentro de ônibus refrigerados descreve de forma quase robotizada os encantos da cidade a viajantes de outras terras, muitas vezes bem distantes. Pode ser, mas este também é o cenário dos felizardos que diariamente carregam seus esquifes e longos remos da garagem dos clubes para dentro da lagoa.

Quando resolvi experimentar esse esporte aquático, chegava ao clube às 06h30min e as 08h15min já estava de banho tomado, esperando o ônibus que me levaria para o trabalho.

Passei por intensivo treinamento, à medida que ganhava prática num tipo de embarcação, rapidamente passava para outra modalidade, que sempre exigiria mais habilidades. No princípio me senti ridículo remando numa piscina, onde o “barco” era uma estrutura sólida, em que apenas o assento móvel e os remos faziam parte da vida real.

Já o primeiro barco sob meu comando, era largo e relativamente curto, o que dava a estabilidade necessária a principiantes como eu, os remos que pareciam compridos, descobri mais tarde, eram bem curtinhos, porém exerciam dupla função, serviam tanto força propulsora, como também mantinham a estabilidade da embarcação.

A evolução normal desse esporte requerem do remador trocas quinzenais de tipologia de embarcação, exigindo mais equilíbrio e em compensação, permitindo remadas cada vez mais eficientes, leia-se mais velocidade e menos esforço.

Depois de muitas remadas, você atinge amplo domínio da embarcação, inclusive a difícil arte de estacioná-la no comprido deque sem muita manobra de remos, pronto você finalmente se encontra em condições de sentar em um esquife.

Muitos frequentadores do clube preferem a remada em grupo, e no Botafogo eram disponibilizados barcos para até oito remadores, com remos longos, onde cada participante usava os dois braços para puxar um único remo. Muitos convites aconteceram, mas sempre inventei alguma desculpa para não participar dessa remada coletiva.

Boa parte dos remadores gosta de conversar enquanto se exercitam, já eu, preferia me deliciar com o silêncio e a tranquilidade que aquela paisagem me propiciava.

Sempre remei sem companhia, pois dependendo do dia, queria pegar pesado, em outro puxar remadas mais espaçadas, deixando o barco fluir naquele espelho do céu e ficar sentindo o ruído da brisa no ouvido.

Quando você senta pela primeira vez num esquife a insegurança percorre o corpo da cabeça aos pés, estar diante de um barco longilíneo de 8,2 metros e que pesa exíguos 14 quilos. Muito estranha a sensação de ver seu glúteo extrapolar a largura do barco aliada à tamanha proximidade da água.

Para quem passa pela lagoa e vê aquela movimentação de barcos, e braços puxando remos com força, logo imagina que esses atletas exercitam de forma exagerada apenas os membros superiores. Veja você como as aparências enganam, no remo são as pernas que efetivamente fazem o esforço maior, os braços apenas finalizam o movimento.

Outro detalhe interessante são ruídos produzidos pelas vias que contornam a lagoa, à medida que você se afasta das margens o barulho se reduz rapidamente, e o melhor dos mundos é sem sombra de dúvidas a remada na raia central, unindo silêncio e uma distância longa a ser percorrida em linha reta.

Mas nem tudo são flores, quando você está completamente relaxado, deslizando como uma brisa sobre superfície da água, sustos podem acontecer pela via natural, os denominados macarrões verdes, que nada mais são, que a proliferação de raízes, que podem travar o remo e te obrigar a um mergulho compulsório.

Lembro que a estabilidade dessas velozes embarcações depende exclusivamente do equilíbrio que os remos propiciam. Outra possibilidade de problema pode vir de alguma lancha, que quanto mais pesada, maior será a geração de marolas, se chegam pelas laterais, podem também desequilibrar o barco e virar, felizmente estes eventos são raros, pois estas atividades normalmente se realizam em horários diferentes.

Aposto que, da próxima vez que você estiver margeando a lagoa, olhará para esses desportistas com outros olhos.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 16/11/2023
Código do texto: T7932999
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