O Caso
De longe, ouço as crianças se envolveram numa pequena desavença.
- Foi você, sua burra.
- Não foi.
- Foi sim.
- Nãooooo fui eu. Já faleiiiiiiiiii.
Disse a mais nova por último, prologando de forma estridente para os ouvidos humanos as palavras.
- Foi simmmmmm.
Soltou a mais velha, com um rosnado e dentes trincados.
Chego no local em que se sucede a discórdia.
Tento botar ordem. Com as palmas das mãos abertas, faço um gesto para baixo a fim de acalmar os ânimos.
A mais nova está deitada na cama observando a mais velha que, com um lenço umedecido na mão, tenta limpar uma foto colada em seu armário.
Me ignoram. Sinto a atmosfera pesada. Pergunto sobre o motivo da briga. A mais velha me respondeu, com os olhos rasos d'água:
- É que essa idiota desenhou um coração na foto da minha prima. Eu não gosteiiiii (de novo, um rugido).
Olhei para a mais nova e perguntei se ela tinha feito aquilo. Dissimuladamente, me respondeu que não. Negava, assim, a autoria.
Fui conferir mais de perto o crime. Era um coração tosco, desenhado aparentemente por algum destro com a mão canhota. Pela forma apresentada, pensei que alguém tivesse desenhado um eletrocardiograma em forma de coração.
Tive uma explosão de riso. A gargalhada atingiu elevado nível na Escala Ritcher. Olhando para a mais nova, que até então negava o fato, senti a confissão.
Pronto, mais um caso resolvido