"Quem cuida de quem cuida?"- Degustando o tema proposto para a redação do ENEM 2023

"Quem cuida de quem cuida?"... tá aí a pergunta que não quer calar... que o Enem usou como tema da redação de 2023... a qual, nunca foi respondida antes... e eu irei aprofundar-me.

Para início de conversa, faço parte da geração chamada popularmente de "X" , como tal, sou filha de pais que sempre foram adeptos ao velho e quase extinto conservadorismo.

Fui criada dentro dos ensinamentos cristãos e, segundo meus pais e a tradição dos bons costumes, têm a figura masculina como o "cabeça " da família, enquanto que a feminina, deve adotar a postura de alguém capaz de ser o braço direito (e esquerdo também) do marido, sendo uma esposa e mãe dedicada em tempo integral, dar suporte à família, de modo a suprir todas as suas expectativas e necessidades. Uma "Amélia " por assim dizer. E o os que não pensam em formar família?... onde ficam?... -acho que na boca dos que julgam. Cada um deve viver como bem entender. Pois bem, sem fazer muita curva, vou focar na minha história. Com 11 anos, além de  auxiliar nas atividades domésticas, também fui ensinada a cozinhar... mesmo nem tendo altura suficiente para alcançar as panelas em cima do fogão... o que logo foi resolvido com um suporte de madeira improvisado pelo meu pai, que ficava supervisionando para eu não me acidentar (pasmem-se: isso não gerava polêmica para a geração daquela época). Ele trabalhava e cuidava de mim e dos meus irmãos, e eu tive que aprender tudo precocemente para poder auxiliá-lo no caso de sua ausência em casa. Infelizmente, minha mãe precisou se ausentar por um tempo, para fazer uma cirurgia e tratamento de saúde em outra cidade. Como eu desejava ardentemente tornar-me uma mulher "exemplar ", desempenhava as tarefas que me foram delegadas, com total afinco. Tanto que meus irmãos começaram a apelidar-me como "segunda mãe ". Sou a filha mais velha entre dois homens.

Quando me casei, estava totalmente "habilitada " a executar tais afazeres. Uma esposa solícita e uma mãe eficiente em vários quesitos, modéstia a parte. Casa limpa, comida boa e agradável ao paladar de todos; dotes culinários, roupas e calçados limpos (e bem organizados), refeições nos horários adequados, atenção às demandas de todos, louça lavada e guardada, tudo muito bem organizado para garantir um ambiente limpo e confortável para se viver. Tudo isso, trabalhando fora também, antes mesmo de eu sair do mercado de trabalho e muito mais agora. Mesmo estando com problemas de saúde e me tratando para operar. Quando vou para meu quarto descansar, não "devo nada" a ninguém e vou curtir o "sono dos justos" ou curtir as coisas que mais gosto. E então, me pego fazendo essa mesma indagação do tema da redação: "Quem cuida de quem cuida?"...- acho que Deus!

Não significa dizer que minha família é "inútil " , nem que me deixam sobrecarregada e à mercê. Eu acho que pequei pelo excesso e todos foram se moldando às minhas posturas. Internalizei tudo o que me foi repassado na minha infância, tendo minha mãe como a "personificação" dessa esposa e mãe dedicada, a tal ponto de sequer cogitar a ideia de que não necessitava "carregar o mundo nas costas "; pois este, afixou-se de tal forma, que parece que soltá-lo é um grande pecado. Mas fato é que tenho me permitido fazer isso aos poucos. Estou me dando o direito de cuidar também de mim, de oferecer-me carinho, cuidados e "mimos" que sempre ofereci aos outros. Principalmente agora em que estou tendo de rever tudo... diante do meu estado de saúde; além de passar por cirurgia, terei também de fazer uma mudança radical em várias esferas: tanto na alimentação quanto em hábitos da minha rotina, de modo a trazer melhor qualidade de vida. Concluo reforçando a ideia de quê: não basta só Deus cuidar da gente, porque Ele sempre deseja o melhor para nossas vidas e seu amor e misericórdia são abundantes. Entretanto, se não fizermos a nossa parte, seremos algozes de nós mesmos. Seu mandamento instrui que devemos "amar ao próximo como a si mesmo";  ou seja, o parâmetro desse amor somos nós. Será que não estamos fazendo exatamente ao contrário?... amando mais ao próximo do que a nós mesmos?... nos doando demais e recebendo de menos?... aceitando desconsideração para não "incomodar" o outro com nossas "noias"?...  finalizo essa crônica afirmando: quem cuida dos outros, deve primeiramente cuidar de si, sob pena de sofrer com o descuido em relação à própria vida e não poder cuidar de mais ninguém. Para o bem de todos, não vamos nos excluir da lista dos que precisam ser cuidados. Tá dado o meu recado. Estou aprendendo isso à duras penas. Então, se você tem se deixado de lado, tenha pena de si e faça algo; enquanto é tempo, enquanto ainda tem forças para cuidar. Pois, na pior das hipóteses desse cenário, poderás ser "descartado " como um objeto que parou de "funcionar ".

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 14/11/2023
Código do texto: T7931912
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