JUSTO NO DIA DA LIBERTADORES...

Chegara o dia da decisão da Libertadores, tão ansiada pelos tricolores (como rima bem o nome da Taça com a torcida, é ou não é?). Em poucas horas, teria início o jogo.

Tiago estava na área de serviço do seu apartamento quando ouviu sua esposa exclamar algo, lá dentro (na sala ou no quarto), sobre um bicho.

Bom, ele conhece sua amada o suficiente para saber que ela é meio alarmista quando avista qualquer inseto no pedaço. Antes que o valoroso marido pudesse pensar mais seriamente no recurso ao inseticida ou a uma boa chinelada no "bicho", eis que ela exclama "urubu"!

Opa! A coisa mudou de figura. Um urubu decerto é bicho bem maior que um inseto, pensou Tiago enquanto se encaminhava na direção da alarmada denunciante.

No apartamento, há várias pequenas lajes de cimento na área externa, nas janelas que possuem jardineiras ou nas varandas. De finalidade mera e supostamente estética, na concepção dos arquitetos responsáveis pelo “design” do edifício. Ao acercar-se da esposa, o intrépido tricolor também avistou a danada da ave pousada numa dessas lajes, no quarto que serve de sala de TV.

Sorte ele haver encostado a janela desse cômodo momentos antes, em razão do vento forte que costuma soprar em Brasília. Do contrário, o pouso do animal poderia ter sido mais dantesco.

Experimentou gritar "xô" e agitar os braços para o cidadão emplumado entender que ele pousara no aerobuporto errado. Como não resolveu, subiu no sofá para "elevar", digamos, o tom da manifestação contrária à presença do intruso. Deu certo e o urubu azulou da laje. Tiago quase cai do sofá, mas o esforço foi recompensado.

Nada comentou com sua mulher, mas urubu baixar ali em dia de jogo decisivo para o Fluzão deixou-o com os nervos à flor da pele. Renovou suas preces à Nossa Senhora de Aparecida, ao João de Deus e a todos os elementos santos e santificados existentes na residência. Para descarregar a consciência ainda mais, resolveu assistir ao jogo com um chaveiro do Fluminense em cada bolso da bermuda grená, parte do uniforme sagrado igualmente constituído pela camisa 7 do Renato Gaúcho e pelo pin do escudo do time, presenteado pelo marido da sua querida ex-professora primária. Sem esquecer da tradicional bandeirinha para automóvel, com sua peculiar inversão das posições regulamentares do grená e do verde.

Claro que, mesmo assim aparamentado e protegido, Tiago acompanhou a partida com grande desassossego íntimo. Para sorte dele e da maravilhosa torcida tricolor (na qual se inclui este cronista), o urubu não pousou no Maraca. Nem o Sobrenatural de Almeida andou por lá. Ave, Nelson! A Taça é nossa.

Brasília, novembro 2023.