Ócio de domingo
Domingo de ócio em casa lembrei-me de um hábito antigo: ler o jornal Estado de Minas sentada na mesa da cozinha, ouvindo música, tomando uma cerveja e cozinhando o almoço da família. Uma cena doméstica de um hábito que tive por muitos anos e que foi esquecido. O imediatismo das redes sociais e as prontas respostas do Google o substituíram. Qual a última vez que li um jornal físico? Não me lembro. Comprei o jornal. Percebi de imediato que ele está de cara nova. Não é mais de formato grande e com os assuntos separados por cadernos. Lembrei dos antigos cadernos de Cidades, Bem viver, Cultura, Política, Economia, Gastronomia. Hoje meu jornal físico está menor em formato e em conteúdo. Será também responsabilidade da informação digital?
Passei a manhã me deliciando com o contato físico com o jornal. Passei horas lendo e me entretendo e, garanto, foi melhor em qualidade e quantidade do que as conversas e consultas ao celular. Qual é mesmo a cidade mais populosa do mundo? Quantas medalhas olímpicas o Brasil ganhou nas últimas olimpíadas? Acabou a graça de tentar adivinhar ou de deixar as dúvidas para a próxima conversa. O Google é um interlocutor bem informado, as dúvidas e pendências são resolvidas ali mesmo, na hora. O encontro nem precisa ser presencial, podemos fazer uma chamada via chat, cada um no seu espaço tomando sua cerveja e interagindo. Interagindo?
A presença física do Jornal me trouxe a questão que me preocupa em tempos de notícias pelas redes sociais. No jornal a matéria, seja ela entrevista, ensaio, crônica ou notícia é assinada. Tem a responsabilidade e a reputação de quem pesquisou e escreveu. Antes repetíamos uma notícia arrematando: "li no jornal do dia tal, na coluna do fulano". Hoje podemos dizer: "li no blog ou no insta do dia tal, assinado por fulano" ? Quanto existe de manipulação, inverdades nas notícias, ensaios e críticas que ouvimos ou lemos nas redes sociais? Nem preciso comentar sobre a bolha de comunicação em que os algoritmos tecnológicos nos selecionam e nos inserem.
Não deixa de ser um paradoxo. A era em que a comunicação está na mão de todos, basta um click, é também a época em que somos mais manipulados e bombardeados com falsas notícias e falsos autores das notícias.
Márcia Cris Almeida
13/11/2023