NOW AND THEN

DA COLÔMBIA AO AFEGANISTÃO

Nelson Marzullo Tangerini

A vida de cronista me põe, certas vezes, numa sinuca de bico. Mas não recuo, diante desse laborioso compromisso. Porque, talvez, algum dia, hoje ou amanhã, alguém leia o que escrevemos, com a intenção de humanizar o mundo.

Um dia desses, precisei ir a um ortopedista e fui atendido por uma médica – ortopedista – que falava espanhol. Curioso, perguntei-lhe de onde ela era e ela me respondeu que era colombiana.

Imediatamente, para mostrar meus conhecimentos literários, disse-lhe: “- Terra de Gabriel Garcia Marquez, autor de “Cem anos de solidão”, “O outono do patriarca” e “Notícias de um sequestro” e Prêmio Nobel de Literatura em 1982.

Naquele instante, a doutora levantou suas duas mãos para o céu e respondeu: “- Toda vez que falo que sou colombiana, as pessoas me dizem: ‘Terra de Pablo Escobar!’”

O mesmo aconteceu há alguns dias, quando soube que havia um aluno afegão no colégio onde leciono.

Sabendo que um professor havia se referido ao jovem rapaz como um “talebã”, procurei Hassan (nome fictício) e iniciei uma amizade com ele, mostrando-lhe livros de dois escritores afegãos: Atiq Rahimi, autor de “Syngué Sabour – Pedra-de-paciência” e “A balada do cálamo”, e Kaled Husseini, autor de “Caçador de Pipas” e “A cidade do sol”, ambos da etnia Dari (persa) como ele.

O Afeganistão é um país pequeno, pobre, sem mar, espremido entre Irã, Paquistão, Tajiquistão e China. As diferentes etnias ali se unem através da Jirga, um conselho para manter o país unido: os azaras, os persas, os tajiques, os pashtum e os chineses.

Os azara, por sua vez, se dizem descendentes de gregos – dos soldados de Alexandre O Grande da Macedônia que por lá esteve.

Haverá outros imigrantes e refugiados no Brasil.

Os haitianos estão entre essa massa penalizada por regimes autoritários; eles trazem consigo a sua história, a Revolução Haitiana, que livrou aquele povo da exploração e da escravidão imposta pelos franceses.

Italianos e espanhóis, por exemplo, aportaram aqui logo após a libertação dos escravizados. A intenção era criar uma nova forma de escravidão, desta vez com salários baixos e repressão do Estado. Foram enganados? Foram. Mas nada se compara ao sofrimento dos africanos, sequestrados em África e trazidos para as Américas para trabalharem exaustivamente, muitas vezes até a morte, e sob tortura.

Muitos desses imigrantes, italianos e espanhóis, traziam em suas bagagens a ideologia anarquista, que pregava um novo mundo, mais fraterno, “sem deus, estado e patrão”, e uma educação libertária.

O que devemos achar triste é um professor de História desconhecer a história atual e destilar a sua xenofobia contra aqueles que fogem de guerras e perseguições étnicas.

Talvez, aqui, eles encontrem menos preconceito – menos que na América do Norte e na Europa, onde a xenofobia atinge limites extremos.

Seria ufanismo de minha parte achar que, no futuro, em 3.000 ou 4.000, vencido o “Gabinete do ódio”, talvez, um povo com DNA de todos os habitantes do Planeta ensine a fraternidade, a paz, o amor e a liberdade a todos os outros povos.

“Você deve dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Espero que você se junte a nós e o mundo será como um só", cantou John Lennon em Imagine.

Em meio a uma guerra desumana, surge, pelo menos, “Now and then”, escrita por John e terminada pelos outros três Beatles, com ajuda da Inteligência artificial.

O impacto de uma nova canção dos Beatles não vai diminuir o impacto da guerra. Mas seria genial se todos aqueles idiotas parassem de matar seres humanos para ouvir os quatro rapazes de Liverpool dando mais uma lição ao mundo - tanto como canção como uma mensagem pacifista.

“Deem uma chance à paz!”

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 13/11/2023
Código do texto: T7930970
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