Como um Filho Pródigo

“Desencalhei” no dia 28 de janeiro de 2016. Lutei para me tornar uma esposa. Sofri na juventude com relacionamentos que não vingaram e, agora realizada com uma pessoa que me amava e eu a amava, ainda assim eu estava pensando em sumir da face da Terra. Destruir o que eu lutei anos para conquistar... uma vida simples mas feliz ao lado do homem de minha vida. Eu era uma borboleta egoísta que queria morrer.

Meu pai não entrou na igreja comigo. Ele foi no cartório apenas mas, aquele dia foi o mais importante pra mim. Tê-lo comigo e dividir minha felicidade sempre foi tudo o que eu mais quis na vida. Talvez uma maneira de desculpar-me por tanto trabalho que dei a ele e minha mãe. Agora, finalmente depois de tantos altos e baixos que eu atravessei e, enfim, eu consegui. Guardo as fotos daquele dia no cartório como se fossem ouro. Meu pai ali comigo no mesmo cartório que me registrou quando eu nasci. Tínhamos uma cumplicidade indestrutível. Foi sem dúvida o dia mais feliz de minha vida. Mesmo ali, naquele curto espaço de tempo pude refletir e lembrar em frações de segundo o que meu pai era e representava pra mim.

Ele sempre me permitiu ser o que eu quisesse ser ainda que muitas vezes não concordasse com minhas escolhas. Quando fui morar numa comunidade evangélica, por exemplo, ele foi contra, mas, entendeu que eu precisava desse tempo. Não foi de seu agrado, mas, respeitou-me.

A história na Bíblia conta que o filho pega como se fosse um saco, põe todas as suas coisas e vai se afastando de seu pai que implora para que o filho fique, mas, vendo que o rapaz estava decidido, deixou-o ir.

Eu já tinha 25 anos, mas, maturidade que era bom, nada! Eu ficava olhando meu irmão, mais velho um ano apenas do que eu, casado e cuidando bem de sua vida e, então pensava: “Eu também posso dar conta do recado”.

O motivo de eu ter saído da casa de meus pais era pessoal e, nada tinha a ver com alguma desavença. O problema era comigo mesma. Meus relacionamentos eram sempre um desastre e, meus empregos duravam no máximo três meses. Tudo era sempre muito incerto na minha vida e eu me desesperei. Senti que era necessário ficar sozinha e entender o que estava acontecendo comigo.

Como o filho pródigo parti. Não peguei um saco, mas enfiei as coisas numa mala vermelha. As coisas miúdas numa mochila nas costas e, assim despedi de meus pais. E meu pai foi o que mais sofreu porque, sofreu em silêncio e eu nem me importei muito na época, pois, pra mim havia sido uma espécie de “Chamado de Deus.” Aquela história de se encontrar era séria e, eu precisava de um tempo. Já tinha feito bobagens por demais e queria “descansar” minha imagem para as pessoas que eu amava. Eu não queria que eles sofressem pelas baboseiras que eu fazia. Eu não era uma crente fanática, mas, amava Jesus Cristo, a sua Palavra e, pensei que saindo de casa naquela época seria um grande aprendizado. E, no fundo como eu disse é um momento importante sair da casa dos pais, dá um sentimento de liberdade e autonomia. Mas, acho que me empolguei tanto com a ideia de viver uma nova vida em um lugar novo e, com pessoas diferentes que acabei não me preocupando se meus pais estavam sofrendo.

E, como nem tudo são flores, passados algum tempo eu voltava para casa de meus pais. Muito arrependida por ter saído afinal, tudo aquilo que eu havia idealizado não aconteceu e eu estava frustrada, doente e revoltada. Meu pai estava feliz pois lembro que abraçou -me com os olhos tão brilhantes que não esqueço até hoje de suas palavras: “Você nunca deveria ter saído daqui!” “Aqui é a sua casa e nós somos a sua família.”

Nunca me esquecerei daquele abraço. O maior que já tive na vida e aquilo representou e ainda representa muito pra mim porque eu senti Deus me abraçando..

( Esse texto está no meu quarto

livro: O barulho do rio ) 2023

Andreia Caires
Enviado por Andreia Caires em 12/11/2023
Código do texto: T7930418
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