Saudosa escola, catedral do saber.
Imponente no alto da colina, o seu prédio continua o mesmo, com as mesmas cores da minha adolescência. Hoje murada, com algumas adjacências a mais, necessárias para acompanhar as exigências atuais da Educação.
De frente ao prédio, contemplei a porta principal e as árvores teimosas e resistentes que cumprimentam primeiramente todos que chegam pela Narciso Pieroni e sobem aqueles degraus.
Voltei no tempo e com o coração acelerado ouvi o sino das 7h. O murmurinho das vozes jovens veio do pátio para dentro dos corredores. Os mais velhos, das turmas mais avançadas, seguiram pelo corredor térreo em direção à Secretaria e à sala do diretor. Fiquei até ver o último aluno entrar na sala de aula e os professores, com seus livros e diários de classe debaixo dos braços, deixarem a Sala dos Professores. O Seu Lázaro Beltrami, sério, em pé encostado na porta da sua sala espera o início das aulas.
Ouvindo a voz do Professor Myr brincando com os alunos da oitava série, subo de dois em dois os degraus da escada, esperando chegar antes da professora Gilda. A minha turma espera fora da sala de aula a sua chegada, tão querida. Vejo cada rosto amigo.
Alguns foram colegas de turma por vários anos. Colegas de escola e companheiros de uma vida toda. Rostos adolescentes, sonhadores, alegres como sempre eram os jovens. Quisera poder fazer aqui uma relação de todos eles. Anas e Josés e dezenas de outros mantêm-se guardados num álbum fotográfico, só meu.
Uma fila de professores vai desfilando na minha frente. Lembro ainda, do jeito de cada um dar a sua aula, das brincadeiras, das tarefas, das exigências, da relação amorosa com os alunos, do respeito que tínhamos pela sua função. Trago na vida adulta marcas deixadas por alguns deles. O gosto pela Literatura, o encantamento do Professor Chagas ao falar dos livros lidos, sua competência literária.
Olho para a avenida Narciso, parecia ser tão longa, comprida demais para minhas pernas finas de menina moça, que subiam e desciam várias vezes ao dia para praticar esportes. Do lado oposto à escola, o acampamento com as casas de madeira da Andrade Gutierrez e seus moradores, era a novidade que movimentava a cidade. Nesta avenida aconteciam as paqueras e os primeiros namoros, longe dos olhos dos pais.
Numa velocidade mental, os anos voam.
Adolesço, concluo o ginasial. Inicio o colegial e me despeço da escola como aluna, por não ter mais o curso de Magistério.
Voltei muitos anos depois como professora.
Agora em posição contrária, sinto a responsabilidade de devolver aos meus alunos um pouco de toda a bagagem aprendida com meus mestres. Ah! Ainda lembro de muitos deles, atualmente grandes profissionais, com filhos e realizados pessoalmente.
Nesta escola pude compartilhar o dia a dia com colegas professores que muito acrescentaram na minha formação profissional. Junto com mais quatro colegas e apoiados pelo prefeito da época, lutamos para a implantação do curso noturno. Trocamos experiências, promovemos festas e gincanas. Fizemos acontecer no Aldo Angelini.
Saudosa escola, igual a mim, cada porangabense tem uma uma história de amor para relatar. Você faz parte da vida de cada um.
Hoje, os jovens têm outros anseios, sonhos diferentes, talvez não te vejam assim. A cidade mudou, cresceu. Mas você, como escola, continua imponente. Através de seus professores, continue sendo uma catedral de conhecimento para os filhos desta terra querida.