CRÔNICA SOBRE AS QUATRO RODAS
Fatima Dannemann *
Ele adorava carros. Tinha tanta mania por carros que o nome da namorada era Mercedes. Quando estava nos apertos, rezava para Santana; quando estava triste, se lamentava: “Audi mim!”A mania de carros era tanta que, quando encontrava os amigos, ele cumprimentava dizendo: “Diga aí, todo Mondeo! Onde é a Fiesta?”. E ia à praia de Saveiro, pegar uma Honda. Quando chegava janeiro, ia Passat o Veraneio em Parati e só gostava de futebol por causa do Gol. Mas seu esporte preferido era mesmo o Golf. Gostava de parecer um garotão de Ipanema e sonhava com um emprego em Brasília.
E era desaforado. Qualquer bronca e ele logo rebatia: - “BMW, se te enxerga”, pronunciando o w como se fosse o “vê” alemão, ou fazia uma careta e perguntava: - “Hyundai” (colocando um acento agudo no último i, como se fosse um japonês falando. E começava seu blablablá de resposta dizendo:
– “Escort aqui, meu irmão…”. E também era fofoqueiro. Mal acontecia uma novidade com alguém no bairro, ele dizia: - Eu Logus vi!
Acabou no terapeuta, que lhe indicou umas férias. Foi voando à França e ao Palácio de Versailles e aterrissou na Itália somente para conhecer Monza. Na Grécia, só quis saber da estátua de Apollo e quando foi à ópera de Paris, não poupou Aplause ao ouvir os primeiros Accord da orquestra sinfônica.
Mas nem aquilo adiantava. Pensou se não seria melhor dar um pulo até a Floresta Amazônica e consultar-se com um Pajero de uma tribo de índios. Isto porque foi ao mercado e pediu Uno Mille para canjica e a vendedora respondeu:”Milho de que Tipo mesmo?”
Para esquecer os carros, acabou comprando um cavalo: Pampa. E começou a jogar na loteria, a fim de ganhar um Prêmio. Quem sabe pegava o cavalo e viajava por aí, numa Caravan, comendo salsichas (Swift, naturalmente!)?
Tinha tanta mania de carro que acabou casando com a namorada Mercedes, tendo uma filha, Samara, e indo morar em Verona. Foi quando resolveu dar um Besta e esquecer os veículos. Hoje, só anda de trem.
PS: crônica escrita em co-autoria com minha irmã Maria Lydia Goes de Araujo Lima, que colaborou com a idéia e alguns palpites.