QUANDO UM APRENDIZ ESTÁ NUMA ÁREA ERRADA ACONTECE ISTO.
Este fato aconteceu quando eu trabalhava como inspetor de qualidade de uma empresa fonográfica, no tempo do LP, ou seja, o vinil. Quando aqui comecei até o disco compacto já estava na sua produção final. Porém, antes do compact Disc (CD) surgir no cenário musical, o tal bolachão imperava nas lojas e os amantes de músicas não deixavam lá por muito tempo. Por exemplo, nos tempos áureos do Xou da Xuxa 1,2,3 etc., Amado Batista, Menudo e muitos outros artistas que vendiam como água, a empresa em que eu trabalhava operava 24 horas e eu, particularmente, recém-casado com casa para montar aos poucos e filho chegando, o chefe nem me perguntava se eu iria fazer extra (saudade do tempo das extras) e o meu nome já estava lá na lista. Em casa, quase vazia, a minha esposa quase não me via, pois como trabalhava à noite, quando eu chegava, dava um tempo e ia dormir, depois levantava e voltava ao trabalho. Graças a Deus, com saúde consegui saldar meus compromissos.
Mas o assunto aqui não é bem este. Quero citar um caso de um novo funcionário que me foi apresentado para eu ensinar o nosso serviço, que consistia em inspecionar, por amostragem, os discos que estavam sendo produzidos in loco e em seguida também, por amostragem, ouvi-los procurando algum defeito de fabricação para corrigir no ato, evitando que o produto chegasse ao consumidor e, posteriormente, surgissem as reclamações com possíveis devoluções, o que provocaria um grande transtorno em todos os sentidos, atingindo muitas pessoas, principalmente a imagem final da empresa.
Voltando ao funcionário recém-contratado para aprender este serviço, aconteceu o seguinte: logo nos primeiros momentos percebi que nada do que eu estava lhe explicando estava sendo absorvido e muito menos entendido por ele, que, por sua vez, ficou impressionado, embasbacado com o trabalho da prensagem dos discos. É verdade que no local havia muito barulho, mas mesmo assim, se a pessoa prestasse um pouco de atenção daria para entender facilmente o que a outra falava, o que naquelas circunstâncias não era o caso. Logo percebi que eu estava falando ao "vento", à toa, inutilmente. E não perdi meu tempo. Chamei-o para a nossa sala silenciosa e logo lhe dei a minha opinião sincera para depois não gerar nenhuma frustração:
- Meu caro, o negócio é o seguinte. Você se habilitou a uma vaga de emprego no lugar errado. Seja sincero: você quer ser Inspetor de Qualidade ou Prensista?
- Sinceridade? Nenhum dos dois. Quero agradecer a oportunidade e não tomar a vaga de alguém que realmente precisa e deseja trabalhar. A minha praia realmente é outra.
Depois disto só foi passar na sala do supervisor e ratificar o seu pedido de demissão. Confesso que esta deveria ir para o Livro dos Records. Uma tentativa de trabalho mais rápida do esta é praticamente quase impossível. É aquele tipo que diz: "OI" e "TCHAU" quase concomitantemente.