A interessante notícia
Já lhe aconteceram coisas. Acontecimentos esperados, a maioria não. Houve aquela vez em que pretendia colar sua xicarará de chá e porcelana que havia sido vitima de queda acidental. Comprou uma Super Bonder para firmar o esqueleto da peça rara. Mas, inábil de nascença, acabou colando dois dedos da mão esquerda. Os Bombeiros foram chamados e o socorreram. Conta ainda para essa estatística de acontecimentos inesperados o dia, muito recentemente, em que fazia mais de quarenta graus de calor e o nosso preocupado rapaz abriu a geladeira em busca de água gelada e voilà: deu de cara com picolés! Apesar de ter sido uma surpresa refrescante, tal deliciosa surpresa foi incapaz de lhe tirar da cabeça preocupações gerais. Até que leu a interessante notícia.
Com o auxílio da Inteligência Artificial, encontrou na internet, não por acaso senão fruto de questionamento permanente, um estudo animador, realizado por cientistas da Pennsylvania State University, nos EUA. De acordo com a pesquisa, mais de oitenta por cento de nossas preocupações não se concretizam. É tudo preocupação à toa. De tal modo que, sugere a pesquisa, devemos desconfiar do nosso cérebro e daquilo que pensamos.
Depois de ler auspiciosa notícia em menos de cinco minutos e trinta e seis laudas, já sente o efeito: apercebe-se 90% menos ansioso. A respiração torna-se menos ofegante, as mãos menos frias, a fala menos acelerada, e toda essa calmaria geral generalizante sem uma única dose de analgésico lícito ou ilícito. Apenas e suficientemente devido ao poder da informação, à Ciência, à Estatística. Como foi fundamental ter sido ensinando a ler, ido à escola, mesmo sendo escola um lugar de pouco entretenimento, quadrado em 99% dos casos e onde se reprova e é reprovado regularmente. Se não estivesse sido alfabetizado, porém, permaneceria acreditando eterna e totalmente na inevitabilidade da calvície, da gordura abdominal, da falta permanente de dinheiro, do custo de vida, do custo de morte, da revolução das baratas...
Após a leitura da interessante notícia, pensa, sem que pareça ser pensamento, pensa alegremente que tragédias esperadas antecipadamente podem não acontecerem; que hecatombe é uma palavra bonita para ser sinônimo de catástrofe, desastre, ou simplesmente o mesmo que calvície, gordura abdominal, falta permanente de dinheiro, revolução das baratas... Pensa, embora não pareça pensamento, tamanha é a calmaria geral lhe toma, que todas essas hecatombes podem não lhe ocorrerem.
Agradece à Ciência, agradece à Estatística e espera ansiosamente apenas a revolução das baratas.