APENAS QUIMERAS (*)
Os arroubos da tenra juventude ecoaram no vazio da intolerância social de um período não muito remoto, mas de uma vontade férrea para o crescimento rápido daquele corpanzil de garoto que ousou vislumbrar e desejar um mundo melhor para si, despertando a alma dos incrédulos.
A vida sem viço, numa época sem a grande força física dos “sarados” de hoje, devido à desnutrida alimentação recebida por falta de provisão para a prole humilde e numerosa do ajuntamento denominado família, deixava o jovem, inquieto e ansioso por uma reviravolta dos costumes, sem os muitos atrativos que a ocasião já recomendava.
A mente revigorada pelos primeiros ensinamentos acadêmicos recebidos de uma congregação religiosa alimentava uma diminuta visão futurista para almejar uma vida melhor, mais produtiva e mais promissora. Uma vida onde a conquista de bens materiais viesse a ganhar o “status” exigido e querido da sociedade consumista emergente.
Os ideais juvenis forjados numa educação rígida e exemplar demonstravam um querer com honestidade e perseverança. Os exemplos, antes de serem uma medida de castração, eram como reconhecimento e gratidão de ensinamentos salutares.
Jamais a ausência e a falta de bens materiais serviria para pretexto de ingratidão, arrogância e mau relacionamento, mas para o fortalecimento, incentivo e valorização de ideais e visão para um futuro promissor.
O romantismo cantado e aprendido das escolas literárias adubava o coração e a vontade dos jovens de uma era sem drogas e vícios. Jovens que respeitavam a autoridade paterna. José de Alencar, Casemiro de Abreu, Fagundes Varela e muitos outros escritores românticos de renome eram lidos constantemente e suas histórias de amor cantavam as belezas da vida. Acreditava-se nelas fielmente.
De olhos abertos, sonhos eram idealizados. Objetivos fixados eram formados e almejados com sentimentos crédulos. Numa pobreza material impar mas de alma limpa via-se no trabalho árduo, ainda sem a tecnologia do mundo globalizado e, na complementação de conhecimentos nos bancos acadêmicos, o caminho a ser percorrido para alcançar o sucesso querido e idealizado.
Alegria e gratidão formavam o dueto da satisfação interior espiritual na vida do mancebo ambicioso. Crescimento cronológico, conhecimento da vida Severina e cultura acadêmica foram ingredientes para uma pseudo vitória.
Hoje, são passados mais de meio século. Na maturidade, os anos de labuta e anseios não foram esquecidos. O vigor da juventude, já exauridos pela fragilidade do corpo doente e cansado das lutas, vê-se o levantar de vozes que não conheceram a luta pela sobrevivência e se julgam possuidores de uma só verdade.
Nesse novo mundo veloz, onde a mídia traz e leva conhecimentos tecnológicos da mais alta inteligência humana, contrapõem a visão daqueles que não sabem e não querem tentar buscar um pouquinho de felicidade para si e para com quem vive ao seu lado. Usam o mau humor, o rancor, o desamor, a arrogância e a petulância para trazer a intranqüilidade, o desajuste, à mágoa, o levantar cadavérico inútil que só desestabiliza o caminhar rumo ao sentir bem de uma vida crescida e formada sem grandes atropelos sociais.
A ilusão nascida com a juventude de ontem, cheia de arroubos sensatos e reais, agora é vista e transformada em simples derrota sem respeito, por quem recebeu sem dar, impondo a morte ao espírito como redenção. Um epílogo como sentença pelo crime de ter nascido, ter sonhado, ter desejado o sucesso material e intelectual, o amor real sem medo, a felicidade e o querer bem.
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(*) O autor é bacharel em Letras, formado pela UNIPAC - Universidade Presidente Antônio Carlos.
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