A gente se acostuma, mas não devia.
A gente se acostuma, mas não devia. Acostuma ter o outro junto de você em todos os momentos precisos. Acostuma a dormir sabendo que o companheiro estará presente, próximo fisicamente ou nos seus pensamentos. Sabe que o outro, aquele que você escolheu para ser seu companheiro, está atento às suas necessidades.
A gente se acostuma com a rotina diária, o levantar, o bom dia da manhã, o café na cama. O almoço, os combinados, as tarefas diárias e o compartilhamento dos sonhos. Assistir um filme juntos, cuidar do jardim e brincar com os animais.
A gente se acostuma a esperar o parceiro com a mesa posta para o almoço, com a salada preferida, o tempero especial na carne e a água gelada no copo personalizado. Acostuma a sentar no mesmo lugar sempre e caso, ele não venha, o outro lugar ficará vazio à espera do seu ocupante.
A gente se acostuma a dividir o pão, a taça de vinho e a cervejinha gelada. Acostuma a separar o melhor pedaço do churrasco para o outro.
A gente se acostuma a olhar para as vitrines buscando algo que faça a alegria do outro por ser lembrado na sua ausência. Acostuma com o preparo do banho e as orações antes do sono e das viagens.
Ah! A gente se acostuma, mas não devia, porque no momento da dor, da separação o vazio que fica é tão grande que nada é capaz de preencher o espaço deixado pelo outro.
Devíamos viver, sabendo que o outro um dia de alguma forma vai embora. O guarda-roupa fica vazio e a cama grande demais para um só. Só nos resta guardar as boas lembranças e apagar tudo o que nos fez sofrer. Agradecer o que foi bom e juntar os retalhos para costurar uma nova vida!