Motivações, causas e coisas de Elizabeth
Faltava pão em Roma, então determinou-se a Pompeu (106 – 48 a.C.) convencer os soldados romanos, amedrontados pelas eventuais tormentas e sucedidos ataques aos navios, carregados de trigo, a enfrentar, longe das terras firmes, adestrados vikings e saqueadores, que tomavam as naves e matavam com crueldade suas tripulações. Então, Pompeu discursou: Navigare necesse, vivere non est necesse ou “navegar é preciso, viver não é preciso”. Viver seria somente usufruir da dolce vita de Roma, como dramatiza Federico Fellini. Dessa lendária admoestação, surgiram, até os dias de hoje, riquíssimas “motivações”. Pompeu ascendeu politicamente, segundo Plutarco, porque foi mais do que exitoso em trazer trigo a Roma, e sua frase ganhou o mundo literário, de Camões a Fernando Pessoa; o mundo artístico, nos fados, nos sambas e nas canções. Entre nós, Elizabeth, também Marinheiro, insere-se nesse contexto, pois sempre se demonstrou destemida e competente para navegar e bem viver nos mares da literatura, apesar de lhe existirem outras possíveis escolhas, dada a sua potencialidade e capacidade, diante de coisas que se caracterizariam necessárias.
Sempre tomada pelo fascínio da arte na literatura, depois de tanto ler e escrever livros, artigos, crônicas e conferenciar, Elizabeth brinda-nos com mais uma obra de temas variados, ressaltando crônicas, tessituras e sua vida exímia de crítica literária. Tal entusiasmo se originou, fundamentalmente, pela sua séria dedicação aos estudos, em Campina Grande, sua terra natal, desde o Colégio Alfredo Dantas e o Colégio Estadual da Prata, em cujas paredes Elizabeth mereceria figurar na galeria de ex-alunos famosos. Desde então, garantiram-se sucesso e brilhantismo nos estudos superiores, de graduação e pós-graduação, no país, no exterior e na Paraíba, onde liderou a criação de disciplinas e cursos de Literatura. Elizabeth Figueiredo Agra Marinheiro, sobrinha do indefectível líder político e renomado Governador Argemiro de Figueiredo, conhece-se pelas suas obras, mas também pelos seus ex-alunos que experimentaram o sabor dos seus conhecimentos, da sua clareza e da sua pedagogia, através de fantásticas comparações, fortes analogias ou metáforas, utilizadas à arte dos seus textos.
Seu ex-aluno e genial docente Milton Marques, em Motivações, orgulha-se de tê-la tido como mestra e a enaltece sobremaneira em aliar à sua competência, no mundo universitário, a superação das discriminações à mulher no mundo do trabalho, e ela ao combater tais preconceitos, escudou-se com o saber e com a competência; altiva, batendo o pé com firmeza, no chão do cariri, como se dançasse xaxado, mereceu ser a primeira mulher a ingressar na Academia Paraibana de Letras, abrindo suas vetustas portas às futuras companheiras e confreiras, as quais reconhecem em Elizabeth uma das expressões maiores na história da nossa APL; admirada, nunca se acomodou, portando-se exemplo de permanente postura combativa.
Seu ex-aluno José Mário da Silva Branco, também em Motivações, destaca em Elizabeth a qualidade de incentivadora de valores, como aconteceu com ele próprio, num insight de sala de aula. E a exemplo dela, ele cita Eduardo Portella: “Considero Elizabeth uma pessoa extraordinária, aluna amiga e discípula dotada de invulgar competência”. Relembra José Mário a “visão idealista e visionária” de Elizabeth, que, enfrentando dificuldades muitas e maiores, realizou inúmeros congressos, simpósios e seminários, entre os anos de 1977 a 1996, quando, na Reitoria da UFPB, nesse sentido, ouvindo o Professor Jackson Carvalho, eu nunca deixei Elizabeth sem ser atendida. Estimava que essas promoções de Elizabeth se tornavam frutíferas sementeiras à conquista de valores literários, de literatos docentes trazidos a Campina e à Paraíba, como também fomento vocacional, sobretudo à juventude, da arte literária.
Motivações reúne textos entusiasmantes, dos quais relevo as alusões ao confrade Ariano Suassuna, que se maravilhava com Elizabeth, que o diga o crítico literário Hildeberto Barbosa Filho. Motivações não concebe apenas Elizabeth, porque o livro passa a nos pertencer, especialmente ao lê-lo, e quando, juntos, concebemos os motivos que produzem nossas próprias motivações...