A REVOLTA DA ÁGUA
Teve um dia em que a água acordou injuriada. Estava cansada daquela vida líquida e monótona. Não aguentava mais ser rio, mar, chuva, orvalho, essas coisas. Estava cansada de irrigar o chão, ser barragem, saciar a sede das pessoas e bichos. Até a lembrança na participação especial no dilúvio não trazia mais qualquer emoção. Ela queria um papel mais marcante nessa vida e não teve dúvida, foi até a sala do dono do show fazer valer a sua indignação. Deus tinha bem mais o que fazer e se preocupar, do que ficar atendendo reivindicação da molhada criatura. Mas se comoveu com aquela história. Olhou pra água e começou a pensar numa maneira de usá-la que fosse bem mais relevante, bem mais necessária e bem mais útil do que a banal forma de rio, mar, chuva, barragem, orvalho e por aí vai. Foi assim que nasceu a lágrima.