UM MUNDO À PARTE

Não sei se o nobre leitor já se deu conta, mas a continuar essa febre de abertura de salões de beleza, farmácias e pet shops, vamos precisar importar clientes de outras localidades, preferencialmente idosos pela troca recíproca de agrados, mas também cães e gatos, pois a oferta já deve estar superando em muito, a demanda de produtos e serviços oferecidos por esse público específico.

Os empresários desses três segmentos não descansam, e muitas vezes se estabelecem lado a lado. Basta um simples passeio pelo Largo do Machado e adjacências aqui no RIO, que um simples observador constatará que essas modalidades de comércio proliferam. Farmácias e pets com a fachada sempre voltada para a rua e salões de beleza sem se importar muito em ficar em evidência.

Se por acaso, somarmos estes três segmentos, veremos que realmente dominam com folga um hipotético ranking municipal, da proporção destes segmentos sobre o total de estabelecimentos comerciais e também na metragem quadrada destes estabelecimentos em relação ao total de metros quadrados do total de estabelecimentos comerciais.

Enquanto o setor de medicamentos e o de produtos de beleza se encontra em boa parte monopolizado por farmácias, o segmento pet, não tem preconceito, com venda de produtos em variada gama de lojas do comércio, indo das próprias farmácias, passando por supermercados e até loja de brinquedos, isso para não falar das lojas especializadas.

Agora, se o tema passa a ser serviços prestados, a briga é literalmente de cachorro grande entre pets e salões de beleza. Em ambos os casos, o céu realmente é o limite.

No mundo das patas, as lojas passam também a fornecer além de cardápio requintado de alimentação, recursos estéticos e até atendimento médico, com requintes bem próximos ao dos humanos. Hoje um veterinário raiz, ficaria corado de vergonha diante da postura dessa nova geração de especialistas, que não se atrevem a tocar no bichinho de estimação antes do uso da tal medicina diagnóstica, é ela que vai guiar o diagnósticos dos pets, qualquer semelhança com humanos, é mera coincidência.

Quem diria que chegaria o dia que o velho ditado “levar uma vida de cachorro” seria sonho de consumo de tanta gente, que vive por aí dormindo ao relento, sem saber se terá o que comer durante boa parte do dia.

Hoje em dia, uma pessoa sem documento terá mais dificuldade de ser encontrada, do que boa parte da população canina, que invariavelmente já dispõe de um chip, que facilitará sua identificação, local onde reside, e o mais importante, o telefone de seu tutor.

Muitos pets já oferecem serviços contínuos, ou seja, se o bichinho de estimação precisar de algum produto ou serviço, ele terá atendimento durante as 24 horas do dia.

As Unidades de Pronto Atendimento – UPAs, a princípio voltadas para seres humanos, agora também migraram para o mundo animal, e foram gradativamente se espalhando pelos bairros da cidade.

Agora, de uma coisa ninguém pode negar o efeito positivo de viver com a companhia de um cão, principalmente entre o segmento idoso, que passa a criar uma rotina diária, que os obriga a sair de casa pelo menos duas vezes ao dia e permanecer na rua até que estes façam suas necessidades fisiológicas.

Não bastasse esse exercício aeróbico, outra consequência direta é essa identidade social com outros moradores da vizinhança, que acabam interagindo, e daí invariavelmente surge uma troca de palavras sobre os pets, depois evoluem, e em muitos casos acabam se tornando amizades fraternas.

E o salão de beleza e as farmácias? Estas serviram apenas de introdução a esse novo fenômeno urbano caracterizado pela relação cada vez mais humanizada entre humanos e seu fiel companheiro de todas as horas, e isso fica ainda mais evidente para pessoas que vem vivenciando o gradativo afastamento de amigos e familiares, por motivos das mais diferentes origens.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 09/11/2023
Código do texto: T7927979
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