Vaidade das Vaidades
Vaidade das Vaidades
Tenho autoridade para observar a vaidade alheia? “Vaidade de vaidades”, diz o pregador, “vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Livro do Eclesiástico). Se tudo é vaidade, é vaidade minha aspirar que alguém leia os meus escritos; aliás, escrevê-los é também vaidade. Se acreditarmos que toda vaidade será queimada, estamos todos “fritos” ou, melhor dizendo, “queimados”. Como acredito só mais ou menos em tudo, penso que ninguém será frito ou queimado.
Outro dia, senti-me vaidoso ao ler um comentário sobre um texto meu. A pessoa, carinhosamente, disse que gostava da excentricidade minha ao compor os meus escritos. Gostei do significado da palavra “excêntrico”; confirmou o que eu já desconfiava faz tempo, que a implicância que tinham comigo desde que lembro da minha existência, por volta dos meus três anos de idade, tinha alguma razão de ser. Eu era um sujeito excêntrico, fiquei vaidoso por isso. Resumo a tal implicância no adjetivo “preguiçoso”, coisa que nunca fui. Creio que a pobreza de vocabulário não permitiu um adjetivo mais acertado e justo.
Fico tranquilo, então, já que a vaidade é também um “pecado” meu, em apontar o dedo para as vaidades alheias. Elas estão em todos os lugares, nas diversas camadas sociais, das mais abastadas às mais carentes, do maior dos ateus ao maior dos crentes, da patente mais elevada ao soldado raso. Na cultura, nas academias (em todas que levam esse título). Não existe lugar onde não haja vaidade; há lugares onde ela transborda e até envergonha. Talvez o lugar mais difícil seja o de pregador de alguma religião. Não transparecer as vaidades é uma obrigação implícita no ofício; o que os favorece, de modo geral, é a não observação crítica por parte dos ouvintes, que, em muitos casos, se tornam fãs do orador, do cantor, etc., esquecendo-se do objetivo, da razão principal de tudo. Por outro lado, existem os observadores que captam a vaidade até naquele exageradamente humilde, que não precisaria se apresentar naquela forma tão Franciscana, pois o seu público é humilde; ser simples como o seu público seria o mais fácil e o bastante.