EU NÃO QUER SER UM NÚMERO

Recuso-me a pensar que eu, um ser criado à imagem e semelhança de Deus Pai Todo Poderoso, seja vista apenas e simplesmente como um mero número neste mundo sensível. Mas, devo confessar que sou forçada a concordar com esta realidade, a cada vez que me deparo com a necessidade de me apresentar em algum lugar.

Não basta apenas apresentar-me dizendo meu nome, minha nacionalidade e minha filiação. Para realizar a compra de qualquer produto, por mais simples que seja, sou obrigada a dizer o número do meu Cadastro de Pessoa Física – CPF ou da minha Carteira de Identidade.

Para realizar o emplacamento de um veículo, preciso escolher um número para usar na placa, assim como os Correios e as lojas, de forma geral, identificam meu endereço através do meu Código de Endereçamento Postal – CEP. Se por acaso eu comprar algum produto pela Internet, na hora da entrega, o carteiro que vai levar o objeto comprado, irá procurar o número da minha casa ao invés do meu nome.

O mais triste de tudo é imaginar que na repartição onde trabalho, o pessoal do Departamento de Recursos Humanos – DRH – não me conhece. Ali também sou representada por um número.

O banco através do qual eu recebo meus proventos, mantém contato comigo valendo-se de outro número: o do meu telefone. E faz isto para falar sobre os números registrados na minha conta corrente, ou a respeito deste número caso estejam escritos na cor vermelha.

Segundo a minha mãe, quando eu nasci, a enfermeira que a ajudou no parto, colocou em meu braço uma pulseirinha de identificação, contendo o número oito, para que eu pudesse ser mais facilmente encontrada entre os outros bebês nascidos no mesmo dia.

Enquanto não recebeu alta do hospital, minha mãe ficou internada na enfermaria número cinco, leito dois. Os médicos daquele hospital, assim como as enfermeiras, também se identificam valendo-se de um número. Estes profissionais se tornam conhecidos pelo número registrado no Conselho Regional de Medicina – CRM.

E tem mais: quando consultam os pacientes, escrevem o nome da doença através de um código chamado CID. Parece nome de gente, mas se trata de um número padrão de classificação dos diagnósticos para fins clínicos e de pesquisa.

Quando preciso comprar uma roupa ou um calçado, ante de perguntar meu nome, os vendedores perguntam qual o número que visto e o número que uso para os calçados.

E se alguém pensa que a minha desdita acaba aqui, lamento informar que não. Afinal, nas escolas por onde estudei e nas que ainda estudo, também sou identificada por um número. Durante os anos em que estudei no Grupo Escolar Capitão José da Penha, na cidade de Baixa-Verde, ao fazer a chamada diária, a professora não dizia meu nome. Apenas chamava o número 25. O meu número.

Meu pai costumava me contar as razões que o levaram a escolher o meu nome e eu sempre tive orgulho da tal história e do meu nome. Eu fui planejada e esperada para ter um nome muito especial escolhido por meus pais. É por isto que me recuso a ser um número. E tenho dito.