LÁ VEM ELA...!
LÁ VEM ELA...
Estava lavando a louça, perdido e totalmente absorto em meus pensamentos, olhando ora para a louça, verificando, analisando me certificando se estavam bem limpos os utensílios que estava lavando, ora para a janela e para tudo que me permitisse ver, sem, necessariamente estar enxergando, pois fica bem à minha frente, e nada mais me é estranho.
Eis que, de olhos baixos prestando atenção ao que estava lavando percebi um movimento lá fora, lancei meu olhar e a vejo passando lentamente, se esgueirando para não ser vista, olhando de soslaio, seguindo sua trajetória indo em busca de algo novo, diferente para se divertir, fora de sua área de convivência.
Pensei eu comigo sem falar nada para não incomodá-la do seu passeio: Lá vem ela! E assim ela passava, olhando, desconfiada, mas seguindo um caminho que já estava sendo costumeiro, devido a insistência e ousadia de ultrapassar por áreas nada seguras para ela, mas ela seguia, confiante, com aquele jeito altivo, maneiro e cauteloso de se locomover, não deixando rastro algum, não emitindo som algum, apenas, algumas notas musicais que pareciam virem de outro lugar, mas era ela que estava emitindo.
Dei um oi pra ela: - Oi Bunty (banti) vai passear? Ela reagiu parando, lançando um olhar ora de um olho, ora de outro, desconfiada, mas seguiu adiante, sorrateiramente, como se nada tivesse acontecido, nem ninguém a tivesse visto. Segui minha lavação de louça, pois ela já não mais aparecia ao alcance dos meus olhos.
Passando-se alguns minutos escutei um barulho, bem baixo, quase imperceptível, mas como estava completamente no silêncio, e nada mais me impedindo de escutar qualquer som que fosse, consegui perceber algo vítreo tocando o piso, vindo da porta que dava para a garagem, que estava atrás de mim. Virei-me e eis que a vi, entrando, mais se esgueirando, sorrateiramente e como sempre, muito, extremamente desconfiada, pronta para abortar a missão, como sempre faz e sair correndo, quando sente-se ameaçada, conjecturando sons ininteligíveis e muito menos decifráveis, mas altos e rápidos, nada igual ao jeito lento, vagaroso e manso que demonstra ser, como está neste momento, quando adentra na cozinha e dirige-se ao ponto que tanto quer, ao alcance de sua meta, quando saiu de sua casa, de seu habitat e dirigiu-se, fazendo todo um longo percurso – porque havia um outro mais curto, mais rápido, porém perigoso, com alguns obstáculos, não físicos, percebido por ela, devido a algumas incursões em outros momentos que a fizeram abandonar o uso do menor percurso e fazer uso desse mais longo, mas possível de ser alcançado – o que já aconteceu em outros momentos. Cumprimento-a:
- Seja bem vinda Bunty, aí não é teu lugar. Ela escutou minha voz e já, prontamente, parou, apenas seus olhos desconfiados olhando pra mim que a observava e percebia que ela me hipnotizava e continuava a dar passos bem curtos e suaves, quase imperceptíveis, mas dava para perceber pois suas patas erguiam-se, escondendo-se de baixo de sua saia com lindas e sedosas penas vermelhas. Eu a deixei dar mais alguns passos até chegar perto dos potes de ração dos gatos, então fui até ela, que, assustada e arisca como toda galinha é, saiu cocoricando, batendo as asas, meio voando e caminhando apressadamente com medo de ser pega e quem sabe virar uma canja ou um belo prato de risoto - deve ser por isso, instinto, que toda galinha é tão arisca. Mas ela era especial, por isso permitia que entrasse na cozinha, pois é poedeira e nos dá, diariamente um delicioso ovo com gema bem vermelha, de sabor forte e saudável, jamais será um prato, e sim, uma galinha de estimação. De vez em quando a pegamos no colo e fazemos carinho nela, mas nem assim ela acostuma e não se dá conta que ela pode tudo.
Ao mesmo tempo que ela sai cacarejando assustada, já a Molly, uma cadela vira-lata que pegamos na rua ainda filhote, mas já está com mais de um ano, sai correndo atrás dela, mas apenas para cumprir o papel de cachorro, porque sabe não poder pegá-la jamais. Os gatos, são três, já se alvoroçam e sobem em qualquer lugar que podem usar como recurso de não terem perigo de serem pegos.
Continuei a lavar a louça, que já estava quase no final.