INTEMPORAL
Eu já sabia que ela não é muito nova, mas agora estão dizendo que é um pouco mais velha do que consta no seu registro de nascimento. Quando a vejo, de noite, com sua beleza e formas arredondadas, não percebo nenhuma diferença e admiro-a como sempre, chegando a escrever um ou outro poema em sua homenagem.
Só que, recentemente, alguns pesquisadores desocupados, analisando material extraído do seu corpo, sem sua autorização, acabaram de dar-lhe mais quarenta milhões de anos, retirando-lhe qualquer aspecto de inocência e candura que inspirava os poetas, em seus plantões noturnos.
Sim, estou falando da Lua, o satélite natural da Terra. Pisoteada, sem o menor respeito, na época das viagens espaciais, só agora os especialistas concluíram os exames das amostras então recolhidas, chegando a essa conclusão. Não chega a assustar, não transforma a Lua numa velhinha claudicante do espaço sideral, se considerarmos que ela nasceu há quatro bilhões de anos, quando um corpo celeste chocou-se com a Terra.
Mas, sem dúvida, retira um pouco da poesia que ela sempre inspirou nos poetas aqui de baixo. Será que a Ismália de Alphonsus Guimarães, depois dessa descoberta, teria visto, lá no alto da torre, “uma lua no céu, outra lua no mar”?
Teríamos hoje um “Chão de Estrelas”, com Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, imortalizando o barraco, com porta sem trinco, onde “a lua, furando o nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão”?
Acho que vou parar por aqui. Chega de divagações, meu amigo. Para ser sincero e com a licença de Drummond,
“eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.”
Mas uma coisa é certa. Vou continuar olhando para o céu nas noites estreladas. E qualquer que seja a sua idade, vou continuar enamorado da Lua.
Que, para mim, será sempre LUA NOVA.