Animais de estimação
Gutemberg Armando Diniz Guerra
Engenheiro agrônomo
Os animais de estimação avançam em status enquanto o ser humano perde terreno nesse campo do reconhecimento pelos seus pares. A visibilidade deles aumenta e pode ser constatada pelo número de pessoas que os arrastam ou se deixam arrastar carinhosamente por eles para caminhadas matinais, vesperais ou noturnas em que eles demarcam o terreno com fezes e urina, a primeira em parte recolhida, a segunda ficando como brinde para os postes, muros, sola dos calçados e calçadas dos logradouros públicos das cidades.
A curiosidade que me anima me fez por diversas vezes procurar pelo significado da palavra pet, que julguei a priori ser uma sigla. Não é! É uma palavra que teria origem no latim petito ou pittinus, com o significado de pequeno, derivando para petit, em francês e que teria sido muito usado pelos ingleses como petty, antes do termo small se generalizar para esse significado. Entre os veterinários, o atendimento a pequenos animais se tornou uma especialidade, ou uma área muito significativa pela intensidade e extensão da demanda para cuidados dos pequenos animais como cães, gatos e aves. Há versões que dão conta de que a palavra teria sido originada na Escócia, migrado para a França, depois para a Inglaterra antes de ganhar o mundo. Na busca que fiz encontrei um instigante texto do professor de inglês e escritor Denilso de Lima intitulado Qual a origem e o que mais a palavra ´pet´significa? Vale a pena ler sobre isso e o que mais oferece o texto e os seus produtos no link https://www.inglesnapontadalingua.com.br/2010/06/qual-origem-e-o-que-mais-palavra-pet.html.
O que me motivou a essa crônica, entretanto, é a percepção que tenho da intensificação do mercado de produtos e serviços especializados para pequenos animais de criação e companhia doméstica como cães, gatos, coelhos, hamster e aves de pequeno porte. Seja como lojas específicas ou prateleiras nos supermercados e shoppings centers, são impressionantes a variedade de ofertas e a qualidade dos produtos, sejam eles alimentares, indumentárias, contenções, adereços ornamentais, bijuterias e medicamentos. Pode-se também acrescentar os serviços de banho e tosa, além de atendimento veterinário do melhor padrão, desatualizando a expressão vida de cão com o sentido pejorativo. Eles saem dos cuidados todos prosas, com laçarotes, perfumados, penteados, vestidos e calçados como verdadeiros lordes de suas raças.
Não tenho nada contra os pequenos animais, embora não tenha nenhum em casa, mas me incomoda ver pessoas de todas as idades, em particular crianças, morando nas ruas, sem abrigo, pedindo alimento e reconhecimento. Fazendo minhas caminhadas matinais e encontrando tanta gente desamparada, fiquei me perguntando se eram dignas de estima e acolhimento, e mais ainda me martelava a cabeça o pensamento sobre o que sentem as pessoas que passeiam com seus animaizinhos ao cruzar com pessoas nessas situações de vulnerabilidade.
Mesmo que não me sinta nada generoso com os desamparados que todos os dias me pedem esmola. Ecoa em minha memória a frase das crianças e mulheres venezuelanas: Aiúda, pai! Corta-me a alma vê-los amanhecer a pedir o que comer ou dinheiro seja lá para o que for! Dou-lhes, sim, bom dia, mas isso não enche barriga. Vejo pessoas abrindo as janelas dos carros e dando pão, bombons, brinquedos, e depois fechando as janelas e os corações aliviados de sabe-se lá que sentimento. Outro dia vi um senhor andando e a cada pedinte dando uma cédula ou moedas, em uma espécie de distribuição caridosa e benfazeja. Ele deve ter saído de casa com essa intenção e certamente preparado com cédulas diversas para esse gesto. Deve ter chegado em casa leve de calorias e de consciência, mas precisamos atacar o mal pela raiz. Há que haver uma solução para devolver a essas pessoas a dignidade mínima que um ser humano merece, tanto quanto e muito mais do que os animais de estimação.
Quanto a estes últimos, repito, devo ter algum acordo tácito em que nos cabe apenas respeito e distância. Sem grandes manifestações, mas sem nenhuma indiferença.