ENTRANDO NUMA FRIA

Não é toda hora que você pode desfrutar de temperaturas baixas, principalmente se mora numa ensolarada cidade como o Rio de Janeiro, que mesmo durante o inverno, consegue pegar uma praiainha no período popularmente batizado como veranico.

Esta pausa na estação supostamente fria deixa evidente que essa cidade tem mesmo tendência a idolatria do calor, e nem adianta o sol declinar para o norte, gerando assim dias curtos e insolação lateral, o calor insiste em se fazer presente.

Foi num período assim, que saímos da praia, depois de leve refeição em restaurante natureba no Leblon, fomos assistir a um filme no Cine Leblon, na época, ainda na versão original.

Essa busca de aproveitar ao máximo os exíguos dois dias do final de semana, nos levava a simplificar deslocamentos desnecessários. Esse dia, em especial, comprova bem essa afirmativa. Depois da praia suprimimos a passagem em casa tanto para banho, como a troca de roupa e partimos para o almoço.

Morar na Zona Sul facilita demais à vida, os mesmos trajes, aí incluídas as funcionais havaianas, que usamos para ir à praia, servem tanto para o restaurante, como em seguida pegar um cineminha.

Até aí tudo dando certo, porém não contávamos com o desequilíbrio térmico causado por quem regulou a refrigeração do ambiente.

O filme focava o inverno canadense, transmitindo toda dificuldade, inclusive para habitantes locais, gente ou mesmo bicho de sobreviverem sob aquelas condições climáticas. Não era só a neve, nem apenas vento que deixavam aquele ambiente inóspito. Acho que a monotonia da paisagem, predominantemente branca, aliando coníferas sem folhas e ausência de vida compunham um quadro dramático.

Qualquer vacilo num cenário desolador como esse, cobrava do aventureiro morte rápida por congelamento. Enquanto isso, eu e minha esposa, com trajes nada adequados a temperatura imposta, praticamente ficamos a bater queijo por quase duas horas.

Nunca tinha vivenciado situação com tanta sincronicidade, na tela ou fora dela prevalecia a friaca. Para piorar ainda mais a situação, o filme mantinha ritmo lento, sem a menor perspectiva de fim.

Ufa, quando finalmente luzes foram acesas e portas laterais se abriram, o pensamento era único, precisamos de calor!

Parti direto para o boteco do outro lado da rua, pedi dois cafés com leite bem quente, e ainda foi possível tirar uma casquinha, daquele já enfraquecido sol de final de tarde, enfim, um alento depois de tão sofrida jornada virtual por terras canadenses.

Mas só assim conseguia esticar a programação de lazer e desfrutar com tudo que tenho direito esse tal repouso remunerado.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 06/11/2023
Código do texto: T7926114
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