O vento e as estrelas
Outro dia eu andava de bicicleta e o vento assobiava nos meus ouvidos. Era uma descida íngreme e eu queria aproveitar para descansar do esforço do pedal. Pois quem desce é porque já subiu. E subir significa esforço, trabalho e suor. Mas eu quero falar mesmo é do vento. O vento às vezes me dá medo, como naquele dia da tempestade. Ele urrava e quebrava tudo que havia na sua frente. Mas antes de descer, parei para descansar na sombra de uma árvore. E o vento conversava mansinho comigo, brincando um pouco nos meus cabelos. Lá na frente, vi um redemoinho e me lembrei da história do Saci. Cadê a peneira, Pedrinho? E por um segundo mergulhei nas memórias do Sítio do Picapau Amarelo. Quanto tempo! Pisquei e me peguei sorrindo dos pensamentos tão antigos e deliciosos, do tempo em que eu era apenas uma menina… Mais de cinquenta anos haviam se passado e eu ainda sabia conversar com o vento! Então pensei no silêncio das estrelas… Elas não conversam comigo. Mas estão sempre lá no céu, ainda que eu não olhe para elas nas noites de recolhimento. Eu sei que elas estão lá, mudas, mas cheias de paz. Elas me dão a chance de descansar o pensamento e sentir a paz que as envolvem. O vento e as estrelas permitem-me sentir a vida. E eu penso agora assim: Deus caprichou na criação humana quando nos deu duas coisas: a capacidade de pensar e de sentir. Aí meu coração ardeu de gratidão!