MINHA MÃE

Minha mãe era uma mulher especial. Vaidosa, segura, apaixonada pela família, sincera, de personalidade forte.

Tinha no caráter o seu traço mais forte. Era uma leoa na defesa de sua prole; dos dez filhos vivos que mantinha em casa

sob suas vistas, o seu manto protetor.

O meu pai era boiadeiro e vivia no comércio de gado viajando dia e noite pelo sertões, na compra e venda e entrega do gado sobre o lombo de um cavalo ou viajando de trem para lugares mais distantes.

Minha mãe sentia a sua ausência de um mês ou dois nas suas andanças de trabalho, mas, nunca se queixava ou deixava transparecer para nós crianças. Eu tive uma infância maravilhosa e rica de aventuras, histórias e peripécias, conhecimentos lúdicos, liberdade em um tempo que fazia a diferença tomar banho de rio, correr na rua em tempos de chuva.

Era diferente de todas as mães que eu conhecia. Adorava perfumes, mas, não podia usá-los, era alérgica. Não gostava de fuxico e tinha um bom humor fora do comum. Tratava a todos com igualdade fosse rico pobre ou arremedado como costumava dizer. Éramos três irmãos com idades próximas e ela, ao confeccionar roupa para nós com sua máquina de costura, fazia calça e camisa do mesmo tecido para os três. Havia um irmão mais invocado, cheio de não me toques, que sempre protestava para não usar aquela roupa, alegando que não estava no exército, que aquilo era uma farda e só faltava o quepe. Minha mãe ria, ria e continuava os seus afazeres, compreendendo os reclamos do adolescente e dando de ombros pela sua condição de só poder vestir daquela maneira. Era uma pessoa alegre, feliz pela vida que tinha, apesar de não ter tido uma infância como a que ela nos deu. A sua mãe morrera de parto, e depois disto, como toda mulher na sua época, fora entregue pelo pai aos cuidados de parentes. Como ela mesma dizia: "Fui criada pelas casas". Não tivera uma mãe nos seus anos tenros com todo o carinho que merecia ter.

Imaginar que uma mulher como aquela, elegante, terna, meiga, inteligente, altiva, educadora, compreensiva, amorosa e mãe, tivera uma infância sem o afago de uma mãe, deixa-me mais agradecido e mais convicto de que a minha mãe deixou um grande legado: Foi uma mãe que nasceu para ser mãe, para criar e amar seus filhos com todo o seu grande amor.

Dona Sevi minha mãe, que vibra nas batidas do meu coração.

Edilberto Abrantes
Enviado por Edilberto Abrantes em 05/11/2023
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