PREFIRO SORRIR

Um instante, um sorriso, um aceno. E a vida segue seu rumo na tranqüilidade natural das coisas imutáveis. Beijos apaixonados são trocados em meio a juras de amor eterno e promessas de incomparável bem-querer e felicidade. Os impasses nem parecem ser constância na existência humana, tem-se a perfeita impressão de algo completamente coerente a desabrochar a cada cotidiano, quando na verdade não vemos quão desconexa a realidade se mostra, quão horrendo o mundo deseja provar ser. O mundo é muito mau quando quer. Por vezes, o chorar torna-se tão importante quanto o sorrir, porque as lágrimas ficam represadas à explosão, na ânsia de ir à luz, de expor-se à sequidão do rosto. Se bem que eu prefira sorrir e abraçar o sentimento da alegria iluminado por esse contundente entusiasmo. Contudo, que pena, não administro a emoção nem controlo as divergências, pois sou um mero cativo dos sentimentos, simples escravo do coração. Tenho por objetivo o ser feliz bastante, de modo intenso, diário, constante, a exemplo dos meus semelhantes.

Quero a simpatia e o carisma do meu próximo, quero a vida abundante de vitalidade, quero crianças encantadas pela bondade que, estou certo, todos os homens podem expressar sem intervalo, sem receio de deparar óbices. A mão suave do amor que me acaricie deveras e me faça adormecer sonhando com anjos voando aos milhares e cantando hosanas ao Todo Poderoso Senhor nosso. Por favor, gritem suas dores e proclamem seus amores à vontade, sem nenhuma espécie de amarra, despojados da timidez. Nada melhor do que semear sonhos e cultivar realidades ternas, arando o terreno plano da ternura e colhendo paz e promessas de virtudes, fraternidade e confraternização, simpatia e entendimento, amor e envolvimento.

Acredito na infância, na sua inocência, na beleza que emana de seu olhar ingênuo. Os palhaços que me perdoem, mas não sou adepto do riso pasteurizado e empacotado por fórmulas antecipadas, opto pela gargalhada espontânea dos felizes. Cogito os sorrisos infantis e sinceros, os risinhos cúmplices dos amantes, os olhares que se deixam levar pelo silêncio, mas expressando simplesmente o essencial, o tudo que importa dizer. Os olhos abrem janelas para revelar os mistérios da intimidade e mergulhar no explícito d’alma. Quase todos os segredos podem ser conhecidos através dos olhares e seus diversos ângulos e sinuosidades. O olhar, acreditem, é uma verdadeira revelação, um claro livro aberto. Por isso sorrio sempre, permitindo-me vagar através da seara do platonismo e do incógnito. Prefiro sorrir porque é simpático distribuir alegria pelas ruas da cidade.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 26/12/2007
Reeditado em 21/07/2010
Código do texto: T792512
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