QUEM SABE AMANHÃ TUDO MELHORE.
Passei parte da minha infância em uma fazenda, eu já a mencionei em muitas das minhas crônicas e nunca vou deixar de falar do meu pequeno reino encantado, presente ainda no baú da memória. Tenho saudades da quietude, o canto suave dos passarinhos nas árvores frutíferas, o cheiro gostoso das manhãs, os raios primeiros do sol entre as folhas das árvores. Na época eu não tinha a mínima noção de viver em um pequeno pedaço de paraíso. Hoje sei quanta falta me faz, e o quanto eu poderia ter aproveitado daquele lugar mágico. A vida é mesmo assim, somente depois que perdemos algo é que damos conta da falta que aquilo faz.
Aos doze anos, iludindo pela cidade grande e ao convite do meu avô materno, deixei o meu pequeno reino rural e migrei para a cidade de concreto e aço. O barulho constante de buzinas, as ruas movimentadas, pessoas apressadas e sem tempo para um pequeno dedo de prosa. Os passarinhos são escassos, não há rios de águas cristalinas, nem nada do que me era tão costumeiro. As noites são barulhentas, principalmente nos finais de semana. Porém, era necessário essa transição tão difícil para uma alma desprovida de maldades. Eu fui um filho do mato, com cheiro de terra, hoje sou filho da cidade fedendo a fumaça de escapamento.
Talvez um dia já na iminência da aposentadoria ( se é que vou chegar a me aposentar... ) eu possa reavivar um pouco do tempo antigo, não na mesma medida que eu tinha, no entanto, vale a pena a tentativa de se reconstruir em um pequeno e modesto sítio um pouco do que havia lá em Minas. Imagino uma casa simples, se for possível um pequeno lago com alguns peixes, espaço para árvores frutíferas, canteiros com diversas hortaliças, galinhas cacarejando pelo quintal, fogão a lenha, por hora é isso e está de bom tamanho.
Definir a minha vida hoje é das tarefas mais difíceis, uma vez que, morando em uma cidade tenho que trabalhar em outra. Para que isso dê certo eu preciso ficar a semana inteira na cidade onde trabalho, por misericórdia da sorte, a minha mãe tem residência nesta lá me permitindo ficar na casa dela a semana e retornar na sexta-feira a noite para a minha casa... Só que não caríssimo amigo leitor, nem tudo sai como planejado, parece que o tiro ( às vezes ) sai pela culatra.
Vou explicar... Era para eu ir todo final de semana para Sorocaba, cidade onde moro com esposa e uma filha, no entanto, dadas as circunstâncias financeiras tenho que ficar até dois finais de semana por aqui. Tudo bem que estou na casa de meus pais, também, dadas as circunstâncias da minha deteriorada saúde mental e psíquica, todas essas decisões estão pesando muito mais do que deveriam, e, não sei exatamente o que fazer uma vez que estou praticamente sem opções. Continuarei empurrando com a barriga que nem tenho mais, talvez quem sabe amanhã tudo mude e minha realidade seja um pouco melhor do que a atual. Vivo em meus dias a verdade de certo verso do poeta onde se diz: "É solitário andar por entre as gentes".