NÔMADE

Sou um nômade dentro de mesmo, vagando a esmo numa busca sem fim. Vou catando, ao longo do caminho, os pedaços que se desprendem da alma, como se fugissem dessa casca que carrego diuturnamente. Em dados momentos, choro. Em outros, reverbero alegrias galopantes, abruptas e febris. Gosto dessa alegoria, um tanto tresloucada, pois é assim que entoo o meu canto, disseminando réstias de inspiração quando der na telha. Nessa lida cigana, vou descobrindo recantos até então nunca untados, nunca provocados, nunca gozados. Vou descobrindo frestas e vielas que nem desconfiava que existissem e isso traz prazeres agudos, sorrateiros, proibidos. Adoro essa forma de cerzir a vida. Adoro esse relampejar maroto, moleque, despretensioso e infestado de anarquias tantas. Um dia, quando tudo acabar, terei a recompensa pelo rito cumprido, abraçando a linha de chegada com todas garras e amarras do meu melhor querer-bem.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/11/2023
Código do texto: T7924884
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