TERTÚLIA DE ARROMBA
“Azambuja 2023”
Aos três de novembro de 2023, cumpriu-se mais uma costumeira TERTÚLIA CONVIVENCIAL entre bons amigos de longa data.
Por ser um Evento com característica muito sui generis vamos chamar-lhe «Tertúlia de Arromba», à luz ténue de um “Segredo” inesperado, em boa hora transmitido pelo anfitrião de sempre, Carlos Cação.
Responderam à chamada os seguintes comensais: Carlos Cação, Joaquim Saraiva, José Luís, Manuel Alves, Adérito Pereira, Valdir Araújo, Diogo Costa e Frassino Machado
Da ementa deste Repasto – que incluiu entradas à base de bons queijos e com bebidas de se lhe tirar o chapéu – os dois pratos principais apresentados: assados oriundos de “engenhosas caçadas”: tordos, rolas bravas, codornizes, etc.; e um valente tacho de arroz (semi-malandrinho) de carnes diversificadas. Da rega do repasto constaram alguns bons vinhos, brancos e tintos (verdes e maduros).
Até aqui, tudo bem. Mas, inesperadamente, revelou-se-nos uma sobremesa original, muito própria desta presente data de finados: uma Queimada-galega, ali confeccionada à vista de todos, com preciosos ingredientes, a saber:
a) O pote
O recipiente é importante, quanto mais não seja para contribuir para a teatralidade do momento. Escolha um recipiente de barro ou de metal que resista à queima do bagaço no seu interior… quanto mais tosco melhor!
b) O bagaço
O bagaço é fundamental, é a sua queima que vai originar o licor final da Queimada- Galega.
c) O açúcar
Deve ser amarelo, em quantidades generosas, adiciona-se ao bagaço. 200 gramas por cada litro.
d) Os citrinos
Podem ser limões ou laranjas, devem ser frescos, partidos em quatro partes e adicionados à mistura de bagaço e açúcar.
e) Os grãos de café, inteiriços.
Enquanto o Acto decorreu, ouviu-se, durante quase dez minutos, uma récita típica desta tradição (segundo se pensa de origem céltica) a que comummente se dá o nome de ESCONJURO E FEITIÇO.
Terminou este Acto simbólico, e não só, com a degustação partilhada do engenhoso e mágico produto.
Ficou sobre a mesa a solicitação de uma nova experiência a agendar oportunamente.
Texto celebrativo (de origem galega). Aqui apresentamos a versão portuguesa:
ESCONJURO E FEITIÇO
(Enquanto arde a poção mágica, compete recitar o Esconjuro):
Mochos, corujas, sapos e bruxas.
Demónios, trasgos e diabos,
espíritos das enevoadas veigas.
Corvos, píntigas e meigas:
feitiços dos mezinheiros.
Podres canhotas furadas,
lar dos vermes e alimárias.
Fogo das Santas Companhas,
mau-olhado, negros feitiços,
cheiro dos mortos, trovões e raios.
Uivar do cão, pregão da morte;
focinho do sátiro e pé do coelho.
Pecadora língua da má mulher
casada com um homem velho.
Averno de Satã e Belzebu,
fogo dos cadáveres ardentes,
corpos mutilados dos indecentes,
peidos dos infernais cus,
mugido do mar embravecido.
Barriga inútil da mulher solteira,
falar dos gatos que andam à Janeira,
guedelha porca da cabra malparida.
Com este fole levantarei
as chamas deste fogo
que assemelha o do Inferno,
e fugirão as bruxas
a cavalo das suas vassoiras,
indo-se banhar na praia
das areias gordas.
Ouvi, ouvi! Os rugidos
que dão as que não podem
deixar de se queimar na aguardente
ficando assim purificadas.
E quando esta beberagem
baixe pelas nossas goelas,
ficaremos livres dos males
da nossa alma e de feitiço todo.
Forças do ar, terra, mar e fogo,
a vós faço esta chamada:
se é verdade que tendes mais poder
que as humanas pessoas,
aqui e agora, fazei que os espíritos
dos amigos que estão fora,
participem connosco desta Queimada.
Tradição Galega e do
Norte de Portugal
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Nota – De Azambuja para o mundo estes nossos / vossos amigos se predispõem, nesta TERTÚLIA DE ARROMBA, a dar a conhecer e a destacar todos os efeitos estranhos ou benéficos desta profícua Convivência.
O cronista de “serviço permanente” ao V. dispor
Frassino Machado
In CORAÇÕES ANSIOSOS
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