Escola, uma ponte para a vida

Ah! Rubem Alves, que inveja tenho de você! Também sonho para todas as crianças e jovens uma escola igual a Escola da Ponte, a qual tivestes o prazer de conhecer.

Profissionalmente sempre desejei viver e fazer de minha profissão a ponte do sucesso e da felicidade para todos que estavam ao meu redor. Nos vinte e oito anos vividos em sala de aula, enfrentei a burocracia do currículo escolar, mas sempre acrescentando a ele as pitadas de açúcar e as doses de equilíbrio e bom senso para cada caso e para cada turma.

Que saudade das Escolas Rurais e multisseriadas, da minha cidadezinha do interior paulista, nos Bairros dos Buenos, do Saltinho, dos Arrudas e Nogueiras. Sozinha, desempenhei diversos papéis além de ser professora. Fui mãe, enfermeira, merendeira, conselheira. Quanto ao ensinamento, que riqueza de detalhes que não foram registrados... estão apenas na minha memória e na daqueles que juntos convivemos.

A cada página lida do livro “ A Escola que sonhei sem imaginar que pudesse existir”, retorno às lembranças em torno do aprendizado daquelas crianças, entre 06 e 14 anos, todos misturados numa mesma sala.

Sem material algum, fizemos dos livros e revistas usadas as fontes de consulta. Trocamos experiências, fizemos recortes das revistas e de nossa vida. Viajamos no tempo histórico e construímos a nossa história.

Falamos de sonhos, visitamos os mais velhos do bairro, apuramos os ouvidos para as suas experiências, aprendemos a respeitar a sabedoria dos moradores rurais. Saber que a chuva cairia à tarde ou que pela cor do ocaso haveria geada na madrugada seguinte.

Apresentei-lhes os poetas, mostrei minha paixão pela leitura de livros e eles me seduziram com a leveza, a simplicidade e o amor mais sincero de crianças com os valores familiares de respeito e gratidão.

Muitos chegavam cansados pela labuta junto aos pais, mas ávidos pela partilha de novos aprendizados. Descalços, mas com uma fita nos cabelos e um chapéu para se proteger do sol ou da chuva. Tudo era bom: a merenda, o pique-esconde, fazer o jardim e cuidar do coleguinha na hora da tarefa.

Fizemos estudo do meio, desbravando rios, córregos e matas, sem precisar de nenhuma autorização dos pais. De uma forma muito natural. Os alunos cuidavam da professora, eles tinham muito mais conhecimento da Natureza para dividir. Sabiam dos perigos e do que me encantaria.

Ao findar o expediente, todos juntos pela estrada, alguns iam ficando pelo caminho tomando o rumo de casa. Outros me acompanhavam até um pouco mais. Muitos me acompanham pela vida até os dias atuais.

Saudades imensas de cada rostinho, de cada sorriso, de cada mimo recebido. Para vocês, ainda quero continuar falando de poesia, da beleza da vida, lembrar da melodia das músicas que embalavam as nossas brincadeiras. De forma leve, sutil e eterna.

Estela Maria de Oliveira
Enviado por Estela Maria de Oliveira em 04/11/2023
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