Matar leão que nada: correr das antas!

 

 “Matar um leão por dia é fácil, difícil é se desviar das antas”, escreveu uma vez Eugenio Caetano Allegretti Neto, meu irmão de Maçonaria, ao comentar algo que escrevi no Facebook. Já não me lembro do contexto exato nem do assunto em si. Achei, entretanto, interessante o dito espirituoso, que é corrente na linguagem informal do dia a dia e tem um fundo de verdade. A gente – sem maldade o digo – vive a esbarrar involuntariamente a todo instante em pessoas insensatas que ignoram a própria insensatez. O perigo mesmo, porém, são os canalhas. Os insensatos são quase sempre inofensivos e, não muito raramente, também vítimas dos canalhas. O azar de deparar insensatos e canalhas me persegue.

 

Não raramente, termina em aborrecimentos o contato com quem – seja por maldade, seja por estultice – perde a oportunidade de ficar calado e mete o pé pelas mãos. Não sou contra, por exemplo, dizer ou escrever o óbvio, porque estilisticamente, às vezes, isso é necessário e não ofende. Gosto mesmo de dizer ou escrever o óbvio. Nem tudo que parece ser óbvio realmente o é. Detesto, contudo, quem diz ou escreve o óbvio apenas para ferir ou aborrecer o interlocutor, assim como tenho dó de quem o faz por mera tolice ou insensatez. Ih, como já tive dissabores desnecessários por causa disso! Não, não é falta de serenidade, é repúdio puro e simples à ignorância voluntária e à desonestidade.

 

Isso me traz à lembrança a Dr.ª Clarissa de Cerqueira Pereira, quando, brincando, me disse certa vez, na Câmara Municipal de Marabá, onde trabalhávamos como advogados: “Doutor, eu estou ficando com medo do senhor!” É que eu, volta e meia, contava histórias das minhas brigas pela vida afora (ou adentro, neste caso, tanto faz) com os canalhas e os insensatos que, para meu dissabor e tristeza, me atravessaram o caminho. Brincadeira dela, claro. Jamais vou brigar com a doutora Clarissa. Ela, a elegância em pessoa, não é canalha nem insensata. Colega da seara jurídica, amiga e minha sobrinha de Maçonaria, ela tem lugar cativo no meu coração.

 

Sempre vivi, sim, às turras com os canalhas ou calhordas, mas também com muitos insensatos – com muitas antas, como diz o Eugenio. O serviço público, por exemplo, mas não somente ele, está cheio de ambas as categorias, que infestam, como praga, todos os lugares e instituições. Em se falando de pulhas, não são somente os reconhecidamente canalhas. Mais perigosos e piores do que esses – que, sendo visíveis, são até certo ponto evitáveis – são os mascarados. Esses, que sempre existiram, mas aumentaram sobremaneira nos últimos anos, dentre outras mentiras deslavadas, se autodeclaram cidadão de bem, defensor do interesse público, defensor da liberdade, defensor da democracia, posam de autoridade, e assim por diante.

 

Sou homem e, por isso, imperfeito. É como há muito me defino. Tenho convicção das minhas imperfeições, que são muitas, e, assim, embora tenha errado muitas vezes na vida e, por certo, continuarei errando enquanto viver, procuro seguir os caminhos que julgo corretos. Isso, porém, nunca me foi suficiente para evitar os canalhas, idiotas, imbecis ou coisa que o valha. Há sempre o infeliz que – se não se manifesta em vez de ficar calado –, no mínimo, passa de onde deveria fazer o ponto final. Ignora onde deveria parar. E aí causa aborrecimentos inúteis e desnecessários. Cruz-credo!